A realidade de um hospital

Não é qualquer um que chega com uma câmera que pode sair filmando dentro do hospital. Tem que ligar antes para lá e agendar com a assessoria de imprensa. Senão vira bagunça – senão mostram coisas que o hospital não quer que mostre. Pois naquele dia a equipe de televisão fez tudo certinho: ligou, agendou, veio na hora marcada e só entrou no hospital depois que alguém da assessoria apareceu para acompanhar. E subiram então ao setor de transplante de medula óssea. De vez em quando um caso de transplante de medula óssea chama a atenção da imprensa, normalmente quando envolve crianças ou pessoas famosas. Nesses casos é feita uma entrevista com o doador, com quem recebe a medula e ainda com um médico ou enfermeira que esteja por lá na hora – tudo, naturalmente, privilegiando a emoção.

Só que eles chegaram cedo demais e ainda precisavam esperar para conseguir conversar com alguém. O câmera aproveitou para armar o equipamento e os três (eram três) ficaram conversando. Mas aconteceu o seguinte: justamente quando estavam distraídos, passou uma enfermeira levando a medula a ser transplantada. Esta era uma imagem que ilustraria bem a reportagem, mas infelizmente o câmara havia perdido. Foram então perguntar à enfermeira se ela por acaso não faria a gentileza de voltar e trazer de novo a medula – agora com a câmara ligada e filmando tudo. Ela aceitou, saiu do quarto e entrou de novo – um tanto nervosa, é verdade, pois não levava jeito para atriz.

Feito isso, a equipe conseguiu fazer as entrevistas que precisava. E já davam a reportagem por concluída quando o câmara disse que queria fazer umas imagens do movimento do hospital. O problema é que naquela hora os corredores estavam vazios. Ele caminhou então até um grupo de residentes e pediu ajuda: “Será que vocês não podiam se espalhar pelo corredor e entrar e sair pelas portas?”.

Ah, ficou lindo. Todos atuaram bem. Quem assistiu em casa teve a exata imagem de como é a realidade de um hospital.