No que você está pensando?

Esse negócio de vc perder as estribeiras em Facebook é bobagem.

Certa vez me peguei respondendo provocações de um infeliz qualquer. Boboca eu fui.

O infeliz foi desrespeitoso, me sacaneou aos tubos por conta de futebol, eu fui levando na boa, não brigo por conta disso. Não demorou muito e o infeliz começou a me ofender... aí eu abri fogo mesmo! Depois eu refleti... me senti uma idiota dando trela para um palhaço.

Com o tempo fui pegando a manha desse lance de Facebook...

Quando paro pra conversar com amigos, muitos relatam que odeiam quando postam fotos de comida, bichinhos, quando contam que foram pra lá e pra cá... na realidade, tanto faz para mim. Mas tenho uma opinião bem aberta sobre isso:

Eu acho que cada um conta as aventuras que gosta, o que faz, o que aprecia, sei lá o quê e ponto final. Se te irrita, cai fora, toma a providência que achar melhor. Assim eu fiz.

Cada macaco no seu galho.

Uma pessoa me disse uma coisa curiosa pelo Face: "eu gosto quando meus amigos postam onde estão, eu gosto de saber o que eles estão fazendo."

Eu não me interesso tanto. Mas sei que estou no mesmo barco. Muitos não gostam do que escrevo. Tudo bem.

É que parece que ultimamente estamos vivendo a patrulha do compartilhamento. O problema quem tem muita gente que simplesmente fica irritada com o que fulano posta e dá ataque soviético!

A questão é que por bobagem muita gente se irrita.

Publicar foto própria, tirada por si mesmo? Cafona! Vergonha alheia!

Fazer check in nos lugares? Tá querendo se exibir, mostrar que sai e se diverte.

Postar foto de comida? Pobre é foda, não pode comer uma comida melhor, quer logo mostrar.

Foto de academia ou dieta? Quer mostrar que está malhando.

Mensagem de auto-ajuda? Hipócrita.

Foto de gato? Solitário.

Foto de filho? Quer mostrar o tempo todo que é super mãe/pai.

Publica muito? Expõe muito a vida.

Afinal, quem foi que criou esse manual do que é “aceitável” compartilhar? Cada um publica o que acha bacana, ué! O que não vale é você ser desrespeitoso, de resto, tudo bem.

Quando foi que ficamos tão críticos, tão intolerantes? Pregamos a tolerância religiosa, sexual e coisa e tal, mas não conseguimos ser tolerantes com as pequenas coisas: como o gosto pessoal, por exemplo.

Alguns são obcecados por algum esporte, outros por chocolate, outros por seus gatos, ora bolas! – e daí? Que mal há nisso? Imagina que chato se todos só postássemos as mesmas coisas? Só aquelas sancionadas como “permitidas”, como “legalzinho”?

Você está sozinho, não tem quem tire uma foto sua, e está doida pra mostrar a si mesmo em um lugar que está curtindo, ou a roupa que está usando: é crime tirar foto de si mesmo? Te ofende tanto assim ver a foto de um amigo fazendo careta para a câmera? Mais do que ver foto de violência ou de bicho mutilado? Tem alguma coisa de muito errado aí.

Você deu check in em um supermercado – ok, isso não vai mudar a vida de ninguém, nem a sua. Não é um lugar “emocionante” ou importante. Mas e daí? Não gosta de saber o que os amigos estão fazendo? Acho que se te incomoda tanto assim quando um amigo posta uma banalidade, talvez o problema não seja o conteúdo da postagem ou o lugar do check in – seja o amigo. Ou talvez seja você, que não tolera nada em ninguém.

E, afinal de contas, qual o grande problema com as fotos de comida? Eu amo comida. Comida é um troço BOM, um troço BONITO (eu acho). Eu me entusiasmo quando estou comendo algo que vale à pena (pode ser um prato em um restaurante chiquérrimo, pode ser um pastel na feira ou ovo frito). Então, por que não mostrar? E por que as pessoas sentem tanta vergonha alheia vendo foto de comida? Pode ser coisa da minha cabeça, mas eu acho que FALTA DE COMIDA é que é uma coisa realmente triste.

As pessoas encaram o compartilhar como exibicionismo. Como querer provar alguma coisa. Que fazem mais questão de dar check in nos lugares e tirar foto, do que aproveitar de verdade o momento.

Existe gente assim? Claro que sim. Mas não é (somos) a maioria. Talvez o problema seja você e as pessoas que você conhece (e aí é problema seu, você vai ter que rever seus conceitos e seus amigos). Eu encaro essa vontade de compartilhar como ENTUSIASMO. Entusiasmo pelo belo, pelo divertido. Encaro como vontade de compartilhar coisas boas com quem você gosta. Qual a graça de se estar bem, sem poder dividir com alguém?

E se as pessoas forem chatas ou inconvenientes aqui ou ali, se te derem vergonha, tudo bem. Faz parte do pacote dos relacionamentos. A gente atura eles, como eles nos aturam. Afinal, ninguém é unanimidade de acerto – eu não sou. Nem você.

Estranho mesmo é aquele invisível, que nunca diz nada, que nunca se coloca nas questões...

Desconfio dessa gente. Acho que tem algo de muito suspeito em quem acha que deve se preservar dos próprios amigos e das pessoas que ama. Não gosto muito de gente com tantas reservas.

Curto gente que de vez em quando mostra uma derrota sim, que abraça sem medo o ridículo ou o cafona, que não tá nem aí pro que os outros pensam e compartilha o que está a fim, o que os deixa feliz – mesmo que seja tosco, bobo ou até meio embaraçoso.

Então, compartilhe! Reclame, mas seja coerente nas suas reclamações e críticas.

Compartilhar online é a maravilha moderna e tecnológica que nos permite ficar mais próximos daqueles que amamos, que nos permite ser múltiplos, quando no mundo real nem sempre conseguimos estar presentes e dar atenção a todos. Compartilhar pensamentos é doar a si mesmo para os outros. É bobagem resistir só por birra, querer ser do contra só para se sentir superior. Ou impor um monte de regras sobre como fazê-lo. Que seja espontâneo, por mais que seja imperfeito.

Vamos encarar com mais benevolência o compartilhar alheio. Com menos desconfiança e soberba. E você, não tenha medo de se expor, de se “gastar”, quem muito se guarda, perde o uso.

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 17/03/2014
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