Diário de Sonhos - #071: SPAP
SPAP - Sistema de Prevenção de Acidentes na Plataforma.
Eu sonhei que estava chegando no trabalho. Estava na plataforma da estação Anhagabaú, perto das escadas rolantes a leste. Uma pessoa desceu na linha do trem, e depois outra e mais outra. Acho que tinha uns cinco, e eles saíram correndo pra dentro do túnel. Acho que o trem tava demorando e eles resolveram ir a pé mesmo. Pensei por alguns segundos, se devia ou não acionar o SPAP. Ouvi o som do trem chegando. Corri pra cabeceira da plataforma e acionei o SPAP. No mesmo instante todas as luzes da estação apagaram, e só ficaram as luzes de emergência - a energia elétrica foi cortada e as pessoas que estava no trilho não corriam mais risco de morrerem eletrocutadas. Mas ainda havia o trem. Gritei para que eles subissem pela escadinha para a passarela de emergência do túnel. A maioria subiu rapidamente, mas dois ficaram parados, sem saber o que fazer. Um rugido de uma criatura de aço emanou da escuridão do túnel. Como uma bala, o trem passou e desapareceu na outra extremidade do túnel. As duas pessoas foram atropeladas e uma meleca vermelha, cheia de sangue, ossos e músculos ainda pulsantes ficou.
Agora estou no Pátio Itaquera, onde é feita a limpeza e manutenção dos trens. É noite e está tudo muito escuro. Estou uniformizado e pronto para prestar serviço. Estou numa espécie de galpão, e lá longe, a mais ou menos um ou dois quilômetros de distância avisto a plataforma, meu posto de serviço. Um ônibus velho e caindo aos pedaços para próximo de mim e desembarca alguns passageiros. Pergunto ao motorista se este é o ônibus que me leva até a plataforma. Ele responde que sim, e vai embora sem mim. Resolvo ir a pé mesmo, mas temo ser atropelado pelo trem. Saio correndo a toda velocidade. No meio do caminho as luzes se acendem. Merda! A energia elétrica foi restaurada e os trens voltarão a circular. Finalmente chego a uma zona segura e diminuo a velocidade. No meio do caminho encontro o Kratos, do God of War, uniformizado como funcionário do Metrô. Quero fazer uma brincadeira com ele, mas tenho medo porque ele é bravo. Mas lembro que somos colegas de trabalho, e resolvo fazer assim mesmo. Passo correndo por trás dele, dou um "pedala Robinho" e grito "AE POUCA TELHA!". Ele fica bravo, mas não sai do lugar.
Finalmente chego à plataforma. São três plataformas, e eu estou na central. Estou levando um saco de salgadinho nas mãos. Era Cheetos ou Fandangos. Avisto meu colega de trabalho, Edson, e pergunto se estamos prontos pra começar. Ele responde que sim, mas eu estou na plataforma errada. A plataforma central é só para as peças de comédia. As peças de drama são na plataforma um. Olho para a plataforma um e vejo vários cenários montados ao longo da plataforma. Num cenário os atores estão vestidos como no século XVIII, no outro como na Grécia clássica, no outro com armaduras de cavaleiro. Então isso que é trabalhar no Metrô, brincar de teatro! Reparo que Edson está vestido de policial. Fico se vai ser uma comédia chaplinesca. Antes de eu sair, Edson diz que não pega bem eu levar o salgadinho, porque no século XVIII eles ainda não existiam! "É mesmo!", penso. "E a Stella tem mania de fazer essas peças de época", diz Edson, "então come logo esse salgadinho". Abro o salgadinho. Tudo fica escuro de novo.
Dezessete de março de dois mil e quatorze.