GENEROSIDADE TEM LIMITE
Num rancho ao lado de uma pequena igreja localizada num bairro popular, já vi crianças tendo aulas de catecismo ou reunidas junto com seus familiares para um festivo café após a cerimônia da Primeira Comunhão. Tempos depois, me contaram que no local haviam instalado uma cozinha que as “irmãs” utilizavam. Logo imaginei que algumas freiras ali preparassem comida para distribuir aos pobres. E como andei trocando minhas panelas por outras mais modernas, outro dia fui até lá com a intenção de doar aquelas ainda em bom estado. Encontrei o rancho em reforma, sem nada dentro, só pedreiros trabalhando. Quando perguntei das irmãs, estranhei a expressão esquisita do padre que acompanhava a obra. Não estão mais aqui, moram ali naquela casa. Atravessei a rua e toquei a campainha. Quem atendeu foi um homem puxando uma criança pequena pela mão. O senhor trabalha aqui? perguntei. Não, eu moro aqui, sou o irmão João, ela é minha filha. Surpresa, não perguntei mais nada, entreguei-lhe o pacote e fiz meia volta. Enquanto o “irmão” fechava o portão é que reparei na inscrição pintada no muro: “Comunidade Não Sei O Quê”. Ali não morava freira nenhuma, só “irmãs” e “irmãos”, que pelo jeito já deviam ter abusado da generosidade alheia.