Itapuan, professor ou educador?
É voz corrente que Itapuan Bôtto, além de se dedicar à educação e à cultura, pouco fez na vida. Sim, escreveu. Mas escreveu exatamente obras, livros, textos que nos falam de educação e cultura. Desde jovem, destinou-se a aprender e a ensinar, como essas artes fossem uma brincadeira paradisíaca. Enquanto dirigente educacional na sua histórica passagem pela Escola Técnica Federal, sempre se revelou “preparado, prático, intelectual e excelente administrador”. Qualidades difíceis de se conjugarem numa só pessoa, quando geralmente o teórico não se supera na ação, o prático, na teoria. Assim Itapuan “se dá bem com a vida”, vive feliz e no conforto. Altruisticamente renuncia esse conforto para enfrentar eventuais dificuldades, obstáculos, incompreensões, inveja, deslealdades da concorrência, na construção das suas realizações; cordato, sem revidar adversidades, sorrindo, demonstra-se uma pessoa que ama servir, na benéfica profissão de professor e educador.
“Métiers” necessários ao aluno, à escola; especialmente o educador que é imprescindível à educação, em virtude do seu conhecimento profundo sobre as diretrizes educacionais no sistema de ensino, sobre o saber de orientar a educação como um todo, na sua estrutura, não somente na escola do bairro, mas em relação a todas as escolas da cidade... Itapuan sabe da ingrata remuneração ao magistério, mesmo assim luta essa enorme luta, atravessando oceanos, às vezes sentindo as conclusões do filósofo poeta Fernando Pessoa: “Quem cruzou todos os mares cruzou somente a monotonia de si mesmo“; no entanto, destemido, quiçá sem algum cansaço, recitando sempre esse poeta filósofo: Se “Viver não é preciso”, “Navegar é preciso” (...).
Na “Concepção do Educador”, do saudoso filósofo Durmeval Trigueiro Mendes, quem é educador, é professor; mas todos os professores não são necessariamente educadores. Explicito: o professor é aquele que ensina a disciplina, o conteúdo, a habilidade, enquanto o educador, além da docência, também “assume dimensões diversas”, entende e compreende filosoficamente o significado, o conceito, a fundamentação, o processo de ensino-aprendizagem, a psicologia, a sociologia e a história da educação, sobretudo, na relação do homem com a sociedade e com a natureza, o que é, para que e para quem serve a educação. Esclarece-se na prática que a teoria pedagógica “faz a mediação entre o educador e o professor na proporção sutil do opus para a tarefa”. Enfim, concluo que o professor ensina a anatomia, o educador, os prazeres do corpo; o professor ensina a biologia, o educador, as razões de viver...