O RECADO DE FILOMENA

Filomena, 9.5, estava mais arruinada que DKV zero quilômetro. Não dava o passo. Não falava coisa com coisa. Engasgava sem chegar à esquina. Inútil abastecê-la com gasolina aditivada. Filomena. DKV.

Filomena perdera quase tudo: os passos, o tino. Mas Filomena não perdera duas coisas: a audição e o gênio terrível. Tinha ouvidos de tuberculosos. E a impaciência do pai: mistura de espanhol com italiano. Não mandava recado. Nem grudava na parede.

Filomena, da sala, acompanhava com especial atenção, a conversa dos filhos na cozinha. Todos com saco cheio de mamãe. Filomena pediu para que um dos bisnetos levasse a cadeira de rodas até eles. E foi direto ao ponto:

-- Estão com o saco cheio de mim? Então, não peguem mais meu dinheiro. Carlota, você é de uma incompetência ímpar. Deu pra todo mundo, de graça. Não tem um homem pra chamar de seu. Osvaldo, se você bebesse menos, talvez entendesse o que escreve. Paula: deixe de ser besta. Seu diploma foi comprado por mim e por seu pai. Estou a morrer. Quando me for, vão atribuir o fracasso de vocês a quem?

O bisneto levou a cadeira de rodas, com Filomena a bordo, pra sala.

Os filhos encomendaram pizzas com a grana de Filomena.

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Orlando Silveira
Enviado por Orlando Silveira em 14/03/2014
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