A DONA DJANIRA E A LÍNGUA PORTUGUESA

De todos os professores que eu tive, só a Dona Djanira ficou na minha lembrança para sempre. A minha mestra de português tinha uma maneira atraente de ensinar a língua de Cesário Verde como ninguém. Eu passei uns dois ou três anos estudando a gramática do Pascoal Cegala com esta docente boa e honesta. Dona Djanira tinha consciência da sua missão de professora e grande cidadoa russana. Quem passou pelas mãos desta mestra de língua portuguesa, com certeza ficou sabendo muita coisa do idioma de Bernardim Ribeiro e do grande Eça de Queiros. Eu tinha 18 anos quando fui estudar com a maior docente de português que teve a nossa cidade. Dona Djanira Carvalho era natural do Borges de Russas. A primeira coisa que estudei com minha mestra foi a análise fonética e também a análise morfológica ou a forma das palavras. Quando entendi a fonética, procurei a metrificar os meus primeiros versos feitos aos 18 anos de idade. Entre cinco ou seis alunos que estudavam na casa da nossa mestra, era eu o mais cuidadoso e atento a toda a matéria que a nossa docente passava para a gente aprender. Dos seis alunos que estavam ali, logo a maioria deixou de mão por não entender quase nada. Eu me lembro que ficou uma jovem de 20 anos e este poeta tentando aprender as regras da velha gramática do Pascoal Cegala, e textos do livro de Português Prático de Carolina Rennó de Oliveira. Tudo o quanto sei sobre a língua portuguesa agradeço à Dona Djanira, a melhor professora que já teve o nosso município russano. A nossa mestra dominava a gramática da fonética à sintaxe. Qualquer questão gramatical ela resolvia com muita habilidade, dando o resultado de tudo. Tinha ela na ponta da língua qualquer verbo, por mais difícil que fosse a nossa mestra conjugava o verbo e explicava o por quê de tal complicação. Quando saímos da fonética, entramos na forma das palavras e passamos a estudar os radicais gregos e latinos, os sufixos, prefixos e outras complicações que a língua nos oferece. A análise morfológica deu-me muita dor de cabeça, porém o pior foi a velha sintaxe com toda a sua complicação. Fui obrigado a decorar as conjunções uma por uma, como também os advérbios e as preposições, coisa que nenhum aluno do científico conhece no ensino atual. A marca do sofrimento ficou dentro de mim, como também ficou a figura da Dona Djanira, que sem bajulação nenhuma, foi a maior professora da terra de Dom Lino Deodato. Ainda hoje quando surge alguma dúvida do objeto direto, vem-me a lembrança dessa autêntica professora habilidosa, inteligente e conhecedora da velha flor do Lácio, como disse o grande Olavo Bilac. Deixo o meu depoimento neste escrito sobre esta autêntica professora que foi minha preceptora por três anos e lhe dei muito trabalho por eu ser um pouco burro. O último texto que eu estudei com a minha mentora era um conto eciano, A singularidade de uma rapariga loura. Neste conto classificamos quase toda a gramática: conjunções, advérbios, verbos, crase, pronomes pessoais, objeto direto e objeto indireto, uma verdadeira devassa na gramática portuguesa. Quando um dia Russas tiver mais amor ao saber, prestará uma homenagem a esta professora, a melhor intérprete da língua de Luis Vaz de Camões.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 11/03/2014
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