O Polvo Matou o Leão
Estamos vivendo agora o momento da Certificação Digital. Trata-se da novidade do Imposto de Renda (IR) para este ano. A apresentadora na TV disso nos fala com a cara mais cínica possível. O que, aliás, é muito menos culpa da jornalista que das regras a que deve obedecer. Isto é, toda a mídia é cínica e imperturbável. Nessa farsa a que os cidadãos, e os próprios jornalistas, é claro, estamos submetidos.
De ano pra ano os mecanismos de cobrança de impostos ficam mais apurados. Os tentáculos do IR se tornam mais ameaçadores. A apresentadora nos revela que o IR sabe tudo sobre a gente. Assim, é bom fazermos a tal da Certificação Digital. Ou, então, qualquer pequeno erro que tivermos com as informações que apresentarmos, fará com que fiquemos retidos na famosa “malha fina”.
Tudo isso pra que o governo aumente cada vez mais a sua arrecadação sem se preocupar com a insegurança total que grassa pelas cidades, provocando a desgraça de muitos cidadãos. Poderão sempre alegar que a segurança é um problema dos estados e de seus municípios (polícias civil e militar, guarda municipal), não um problema federal. Como se tudo não estivesse ligado. Como quando o bandido nos pergunta, sob a mira de uma pistola, “tá ligado, Mané? Num tenho nada a perder”. E sabemos que não tem mesmo. Até porque, se for preso, aquela morte pode contar como ponto favorável quando chegar à cadeia e se apresentar ao xerife.
Tudo isso pra que o governo, com o aumento da sua arrecadação, possa permitir que senadores cassados continuem a fazer uso de seu plano de saúde, mais do que especial, para reivindicar indenizações por despesas médicas no valor de R$ 5, 10, 20 ou 40 mil reais. Planos de saúde a que continuam ter direito cônjuges (a poligamia está oficializada, e a gente não sabia), filhos e parentes do político cassado.
E pra isso sempre serve a tecnologia. Você pode fazer a sua declaração agora a partir inclusive do seu celular. O negócio é o governo ter as maiores chances de arrecadar. Para isso (e por isso) o povo tem que pagar. Agora ao polvo.
Rio, 11/03/2014