Nós e nossos nós (EC)
"Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros."
(George Orwell)
Na complexidade humana o nó da desigualdade é tão apertado que ao se desatar ainda manterá a tortura. Não basta a Constituição Federal determinar que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, para que num passe de mágica todos sejam respeitados. Na Idade do Politicamente Correto da evolução, unem-se contra moinhos de vento aqueles que compartilham em público as mesmas ideias. No entanto, nem sempre o que é publicável é objeto da prática dos que pregam a bela moral.
Na segunda-feira de carnaval, quem assistiu a síntese da premiação do cinema americano, viu Fernanda Lima eleger como os mais belos da cerimônia do Oscar 2014, Lupita Nyong e Chiwetel Ejiofor, uma atriz e um ator negros, sendo seguida em seu voto pelos demais apresentadores. Pareceu-me forçado o elogio. Soube depois que Fernanda e seu marido, uma atriz e um ator brancos, foram escolhidos pela FIFA para participar do sorteio na cerimônia de abertura da Copa do Mundo, ao invés dos atores Lázaro Ramos e Camila Pitanga. O que me levou a considerar válida minha desconfiança com a escolha dos atores mais belos do Oscar 2014.
Na internet são postadas frases e charges de efeito moral de fazer inveja a qualquer santo, despertando dúvida quanto à coerência entre o que se pratica de fato e a “curtição” adoidada que ocorre por ali. Quem não presenciou o movimento Tropicália com os Novos Baianos, pode viver agora a “Tomatália” com os Novos Vegetarianos. Ao curtir no Facebook uma charge contra a Friboi eu também joguei tomate podre no cantor que, por alguns milhões, voltou a comer carne conforme mostra a propaganda. Como pegou mal para ele, há campanha para desmentir o dito, com afirmação de que nunca foi vegetariano. Pesa a favor do Rei da Juventude, a defesa das baleias em extinção na canção “O Progresso”, dele e de Erasmo Carlos. Não nos tornamos mais ou menos civilizados por desfrutar de um bom churrasco ou optarmos pelo vegetarianismo, mas a incoerência com o uso da imagem pesa muito mais quando se tem poder de formar opinião de massa.
Na linha do politicamente correto estão também os que consideram questão já resolvida a homossexualidade. A homossexualidade não é uma doença, como pensam os políticos que criaram o projeto de lei para que o homossexualismo pudesse ser curado pelo SUS. Ignorância das ignorâncias! De qualquer modo, a questão ainda causa estranheza, sim. Talvez manter a mente aberta seja fácil quando o filho ou a neta é do vizinho. É meigo... Sendo o homossexual alguém da nossa família, sabemos que a natural angústia, para essa pessoa, terá o adicional da discriminação e nos preocupamos.
Na ânsia de sermos aceitos nos grupos concordamos com falas que são repetições sem sentido, frases genéricas com soluções para os males sobre os quais não queremos pensar. Nessa linha, gostei do que postaram no Facebook, algo como: "Não sou chata o tempo todo. Tem horas que durmo". Grande coisa se você é alto e eu sou nanica, ou se eu creio na sorte e você no trabalho. Discordar é preciso, sacudir a cabeça em muda concordância, não. Nó de nossos nós, o preconceito não desparece só porque não tocamos no assunto. Mas atenção! Seja qual for a ponderação, se nada tiver a acrescentar e não houver respeito pelas opiniões diferentes, melhor é "curtir" o silêncio.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Nós de Nós
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/nosdenos.htm
"Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros."
(George Orwell)
Na complexidade humana o nó da desigualdade é tão apertado que ao se desatar ainda manterá a tortura. Não basta a Constituição Federal determinar que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, para que num passe de mágica todos sejam respeitados. Na Idade do Politicamente Correto da evolução, unem-se contra moinhos de vento aqueles que compartilham em público as mesmas ideias. No entanto, nem sempre o que é publicável é objeto da prática dos que pregam a bela moral.
Na segunda-feira de carnaval, quem assistiu a síntese da premiação do cinema americano, viu Fernanda Lima eleger como os mais belos da cerimônia do Oscar 2014, Lupita Nyong e Chiwetel Ejiofor, uma atriz e um ator negros, sendo seguida em seu voto pelos demais apresentadores. Pareceu-me forçado o elogio. Soube depois que Fernanda e seu marido, uma atriz e um ator brancos, foram escolhidos pela FIFA para participar do sorteio na cerimônia de abertura da Copa do Mundo, ao invés dos atores Lázaro Ramos e Camila Pitanga. O que me levou a considerar válida minha desconfiança com a escolha dos atores mais belos do Oscar 2014.
Na internet são postadas frases e charges de efeito moral de fazer inveja a qualquer santo, despertando dúvida quanto à coerência entre o que se pratica de fato e a “curtição” adoidada que ocorre por ali. Quem não presenciou o movimento Tropicália com os Novos Baianos, pode viver agora a “Tomatália” com os Novos Vegetarianos. Ao curtir no Facebook uma charge contra a Friboi eu também joguei tomate podre no cantor que, por alguns milhões, voltou a comer carne conforme mostra a propaganda. Como pegou mal para ele, há campanha para desmentir o dito, com afirmação de que nunca foi vegetariano. Pesa a favor do Rei da Juventude, a defesa das baleias em extinção na canção “O Progresso”, dele e de Erasmo Carlos. Não nos tornamos mais ou menos civilizados por desfrutar de um bom churrasco ou optarmos pelo vegetarianismo, mas a incoerência com o uso da imagem pesa muito mais quando se tem poder de formar opinião de massa.
Na linha do politicamente correto estão também os que consideram questão já resolvida a homossexualidade. A homossexualidade não é uma doença, como pensam os políticos que criaram o projeto de lei para que o homossexualismo pudesse ser curado pelo SUS. Ignorância das ignorâncias! De qualquer modo, a questão ainda causa estranheza, sim. Talvez manter a mente aberta seja fácil quando o filho ou a neta é do vizinho. É meigo... Sendo o homossexual alguém da nossa família, sabemos que a natural angústia, para essa pessoa, terá o adicional da discriminação e nos preocupamos.
Na ânsia de sermos aceitos nos grupos concordamos com falas que são repetições sem sentido, frases genéricas com soluções para os males sobre os quais não queremos pensar. Nessa linha, gostei do que postaram no Facebook, algo como: "Não sou chata o tempo todo. Tem horas que durmo". Grande coisa se você é alto e eu sou nanica, ou se eu creio na sorte e você no trabalho. Discordar é preciso, sacudir a cabeça em muda concordância, não. Nó de nossos nós, o preconceito não desparece só porque não tocamos no assunto. Mas atenção! Seja qual for a ponderação, se nada tiver a acrescentar e não houver respeito pelas opiniões diferentes, melhor é "curtir" o silêncio.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Nós de Nós
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http://encantodasletras.50webs.com/nosdenos.htm