MEU CANTO, MINHA VOZ

MEU CANTO, MINHA VOZ

"...é tua riqueza o canto, / meu encanto no

meu recanto, / no canto de todos nós!"

(trecho de "Homenagem", poema de

"NATO" AZEVEDO ao professor e poeta

paraense JOSÉ ILDONE, em 1986)

"(...) eu não espero muito do Ministério da

Cultura, o MinC é um negocinho (...), é uma

coisa com verba pequena, com peso pequeno

no aparato do Estado".

CAETANO VELOSO - trecho de entrevista, no

jornal DIÁRIO DO PARÁ, em 02/dez. 2012

"Meu dia há de chegar / e a estrela brilhar /

na minha terra e no Mundo / (...) não vou ser

mais vagabundo". (trecho CANTO TRISTE,

versão livre de "Harvest", de NEIL YOUNG)

Leio no jornais recentes uma série enorme de desvios de verba pública, falcatruas de toda espécie nesse "país de ladrões". A própria CAIXA -- sempre ela, algoz de milhares de "proprietários" com prestações em atraso -- teve seu "casinho" inacreditável, no qual um(a) Diretor(a) geral ou membro da Presidência autorizou o pagamento (?!) de um "super-prêmio" de 73 milhões de reais... sem a existência de nenhum bilhete. Enquanto o gerentezinho da filial do Banco foi logo preso, o "chefão" que "colaborou" na farsa foi poupado, embora fosse o principal responsável pelo pagamento ilegal. Resta saber quantos pequenos falsos "prêmios" já não foram "liberados" pela mesma figura impoluta, "ficha limpíssima" tão ao gosto de um escritor de Belém.

Curiosamente, praticamente TODOS OS ROUBOS hoje no Brasil se prestam apenas para 1) sustentar o Crime, organizado ou sem organização alguma, e 2) para alimentar a Política, politicagem horrenda, egoísta, insensível, nesse "País sério à nossa maneira", descrição perfeita de uma Nação incompetente e perdulária.

Por vezes fico a pensar se não defenderia eu tais furtos, caso parte deles fosse investida na Cultura, nas Artes em geral, no apoio ao artista amador desconhecido ou nos semi-profissionais que cada Região conhece e admira.

Tendo por ideal o exemplo (nos anos 70) do empresário Marcus Pereira -- que investiu fortunas em discos de repentistas, de violeiros e músicos regionais inéditos -- há anos insisto em cartas aos Jornais que cada Prefeito poderia REGISTRAR num CD e num livro os artistas de sua Cidade, traçando um painel histórico da Cultura local, não com milhares de cópias, mas tão-somente 300 ou 500 obras, para divulgação nas Escolas do município, Rádios e Jornais, sendo alguns exemplares para cada Autor focalizado. Desde 1990 ou 92 "clamo no deserto" vendo Secretarias e até Ministérios eternamente DE COSTAS para o artista amador, aquele cujo palco era a Discoteca do Chacrinha ou, agora, os programas de TV, como os do Ratinho, do Gugu ou do Faustão.

Felizmente, a Internet -- de tantas barbaridades e vilanias -- abre "as portas" da fama (nem sempre!) para qualquer um, com ou sem talento, basta um pouco de sorte. Sempre acreditei que sem ajuda ninguém vai a lugar nenhum e o Destino tem posto no meu caminho pessoas dispostas a me apoiar na realização de meus sonhos... felizmente, não serei mais um dos milhares de artistas populares que "partiram deste vale de lágrimas" sem ter 1 só canção gravada, 1 só letra conhecida, sem que sequer os parentes ou amigos soubessem que o sujeito era escritor ou músico, artesão ou pintor, fotógrafo ou ator.

Felizmente, encontrei no amigo MÁRCIO OLIVEIRA a pessoa ideal que -- com celular de 400 ou 500 reais -- fez os 70 ou 80 registros que estão hoje no YOU TUBE, "eternizando" meu trabalho de compositor e minha atuação (?!) como cantor. Será que custa tanto para uma Prefeitura manter numa saleta 1 filmadora barata e um arquivo em CDs de cada artista de sua região, com depoimentos e obras? O que se gasta em FOGOS DE ARTIFÍCIO em qualquer inauguração chinfrim -- Brasil a fora ou aqui no Pará, pelo menos -- daria para se construir vários Estúdios, com amplo equipamento de qualidade. No entanto, NADA SE FAZ, enquanto a Arte morre.

Os recentes fatos envolvendo os petistas condenados pelo malfadado MENSALÃO só me dão tristeza, não por um aspecto da Política(gem) que já virou costume nesse "País de Ladrões", o desvio infindo do dinheiro público, pouco importa a razão. O que (ainda?) me causa espanto é o fato de brasileiros pobres, que lutam para sustentar suas famílias -- a tal "crássi médja" do PTismo -- terem contribuído em massa para saldar a multa (e com sobras) que o STF estipulou para 3 ou 4 deles.

Num país "sério à nossa maneira" fanáticos estúpidos tiraram parte do pão de cada dia de suas mesas para "ajudar" políticos com renda mensal em torno dos 30 MIL REAIS.. isso "no papel", na realidade ultrapassam os CEM MIL reais. Isso no papel, um certo COTÃO (criado às pressas numa madrugada qualquer) lhes permite retiradas EXTRAS, a cada mês, em torno dos 35 MIL REAIS. No ano passado, um senador paraense -- "raposa felpuda" de uma politicalha absolutamente DESNECESSÁRIA para essa farsa denominada de DEMOCRACIA e muito menos para o povo em geral -- "retirou" apenas R$ 581 MIL REAIS só em cotas, fora os super-salários e os "penduricalhos"... como é um dos mais faltosos dessa Brasília de inúteis regiamente pagos por nós, "faturou" sem trabalhar.

Em 2014 esse "circo" imenso só irá "trabalhar" por uns 4 ou 5 meses, embora recebam 14 ou 15 salários, "fichas limpíssimas" todos êles, na visão idiota de muito eleitor consciente (?!). LESAM suas cidades de todas as formas e ainda assim têm crédulos para votar neles. Os vereadores de Belém do Pará acabam de se "aumentarem" em 45% dos já vultosos proventos... nenhuma preocupação com as necessidades e carências da Capital, segundo texto do jornalista José Carneiro, no jornal O LIBERAL.

Mas, isso não é um tratado sobre essa politicagem horrenda que séculos de "lavagem cerebral" fizeram a Nação inteira crer que é uma necessidade, coisa importante. Meu texto fala de música e artes, trata de sonhos e ideais... e tudo começou com minhas aulas de Canto Coral no Seminário Menor, em Araucária, Paraná. Na família AZEVEDO ninguém era músico, já na de minha mãe, na juventude era teria tocado violão. Quando tive um, mamãe só "batucava" nele.

Inspiração nem sempre é um dom, um presente dos deuses. No Brasil passa a ser um fardo, uma tortura mental, seja no campo da Literatura ou de qualquer outra Arte, exceto o Teatro. Nossas obras jamais serão conhecidas, nossa produção artística fica mofando nas gavetas da casa, quadros ou estátuas jogados pelos cantos. Nesse país desgraçado para a Cultura só há dinheiro para a Política(lha), só há verba para futebol e carnaval, só há "grana" para "desvios" e furtos variados. O compositor de carimbó Mestre "Pelé" se foi, deixando dezenas de músicas sem gravar. No texto do jornal DIÁRIO DO PARÁ de 17/07/2013 o lamento tardio: "Perda de Mestre Pelé evoca o triste destino que une os mestres de cultura popular no Pará -- o pouco reconhecimento em vida".

E continua: "o mestre deixa um legado INÉDITO de mais de 200 músicas e 6 filhos que pretendem (...) transformar a casa do pai em um Museu. (...) Nossos esforços serão para manter vivo o trabalho dele...".

Na Capital a revolta é semelhante, artistas se uniram em meados de 2013 para reclamar de uma "política" cultural que privilegia SEMPRE OS MESMOS, "caciquismo" que aponto desde 1990 e tal. ECOS DE ALERTA, diz a reportagem -- no verso do texto sobre a morte do "Pelé" do Carimbó -- protestando contra o "sepultamento da Cultura" local ou, pior, contra a manipulação dela, para FAVORECIMENTO de uns poucos, "portões" da SECULT sempre fechados para os artistas do povo e para uma população sem acesso à produção cultural variada e ampla, praticada em Belém. "(...) não existe política cultural. É apenas a política de balcão, favorecendo os amigos. E o Governo virando produtor de eventos".

Minha luta para conseguir uma filmadora barata continua, não pretendo procurar Prefeituras ou SECULTs/SEMECs, o "bairrismo" tolo que permeia quase tudo no Estado dá apoio primeiro aos PARAENSES e, só muito depois, ao "resto", à "gente de fora", etc e tal. O amigo que me registrou em quase 80 "takes" está com o celular "parado", com defeito... enquanto isso, aguardo resignado, com quase 50 músicas ainda por gravar, fora uns CEM POEMAS. Penso que um dia, se fôr merecimento meu, esse "brinquedinho" eletrônico virá parar em minhas mãos... até lá, só me resta depender da caridade alheia e esperar que minha memória senil "não se apague" de vez, desaparecendo com as melodias originais de boa parte das letras.

Devo à Internet -- me apresentada por Fernando Rabelo por volta de 1994 e que só usei a partir de 2007 -- muita coisa, perto de 13 MIL LEITORES em 6 ou 8 blogs diferentes, além de 4 ou 5 amigos de infância, que jamais imaginaria encontrar quase 50 ANOS depois. Graças à Internet boa parte do que produzi -- enquanto poeta e compositor -- poderá ser consultada no futuro... além de poder homenagear o SEMINÁRIO MENOR S. Vicente de Paulo, colégio do qual fui aluno e onde formei o caráter e a personalidade que carrego vida a fora.

MISSÃO CUMPRIDA... sem nada mais a declarar, encerro esta série de crônicas sobre o SMSVP torcendo para que outros ex-alunos ampliem a história de uma das melhores Escolas que o Brasil já possuiu. DEO GRATIAS !

"NATO" AZEVEDO (poeta e compositor)