A alma feminina
Eu tinha um objetivo que julgava singelo, ou seja, o de equacionar a alma feminina, mostrando para o mundo a sua lógica, a sua envergadura, o extremo remoto de seu halo, finalmente, seu modus operandi. Ledo engano.
De cara, levei uma eternidade para entender que estava diante de algo abissal e, quando resolvi consultar meus alfarrábios para me certificar daquela magnitude, percebi que tinha perdido parte da ação - meu dia já se fora. Maquinei, então, loucamente, misturando expressões esdrúxulas, na vã tentativa de decompor a sua essência, mas o que mais consegui foi um esboço do macho humano.
Algumas vezes mais, eu ainda insisti nessa análise, só que em uma dimensão infinitamente menor do que a original. Supus, portanto, que bastaria que eu compreendesse apenas uma mulher. É óbvio que, de novo, incorri em erro: uma mulher é uma legião de almas.
Passado algum tempo, na madrugada de um determinado dia em que eu estava com insônia, me pus a lembrar da história de Gautama Sidarta, o iluminado, contada por Hermann Hesse, e foi então que percebi a grande conexão: Sidarta ficou, durante vários anos da sua vida, buscando o caminho que o conduzisse ao Nirvana. Só depois de muitos anos e de muito sofrimento é que ele percebeu que a elevação espiritual que buscava não estava em nenhum outro caminho, mas sim, dentro dele próprio. Da mesma forma, deduzi que só poderia compreender a alma feminina se parasse com essa esquizofrenia dicotômica que separa alma feminina de alma masculina; tudo é alma humana, inclusive, alma não tem sexo. Foi aí que percebi que tenho que ser mais macho do que penso que sou para compreender o universo das mulheres. Eu tenho me esforçado bastante.