A angustia de Deus
Quem eu sou? De minhas duvidas humanas, esta produz um efeito magnífico em meu ser. Enquanto Nietzsche me falava sobre solidão, Osho me dizia que a amorosidade era o viés mais sofisticado da faceta humana. Então minha personalidade se formava diante dessa duvida: amar ou não amar?
De todos os papéis que tive na vida, o de criança foi especialmente significativo porque era possível sonhar acordado, trocar as cores do céu, e até mesmo cavalgar enormes girafas... Tudo era permitido, inclusive o uso da imaginação!
“Quem eu sou” me perseguiria ao longo da minha existência. E talvez eu jamais consiga compreender satisfatoriamente. Todos os seres vivos crescem, exercem uma função, percebemos delicados mecanismos que possibilitam a condição de existir. Do primitivismo à civilização notamos traços genéticos que influenciam na sociabilidade.
A personalidade deturpada sofre com sua condição de não-plasticidade. Certa vez uma atriz disse: “Atores são esquizofrênicos que deram certo!”. Que simbólica essa cisão entre certo e errado, como se ambos não andassem juntos.
A perfeição é uma utopia religiosa. É uma meta inalcançável, que por sua vez gera culpa, frustração e medo de viver. Somos imperfeitos, e se Deus existe, Ele também é imperfeito. Afinal refletimos sua imagem! Particularmente acredito num Deus bipolar que geraria seres humanos ambivalentes, por isso, as contradições, os paradoxos, terrenos em que nossa capacidade é limitada, nem Einstein, nem Hawking conseguiram chegar.
Shakespeare parece sentir a mesma angustia na peça Hamlet quando escreve “Ser ou não Ser: eis a questão”. Essa angustia surge do nada como o filósofo Kierkegaard afirma. Sartre, outro pensador, compartilha desse sentimento humano quando escreve “O Ser e o Nada” e “A Náusea”.
Existir é uma arte. A arte de não cometer suicídio antes dos trinta anos. De escrever um livro, plantar uma árvore ou de ter um filho. Ser pai é antes de tudo ser filho. Ser filho é ser ingenuo, aprendiz. Os filhos únicos geralmente são narcisistas e talvez por isso a psicanálise esteja certa e Freud não seja um velho tarado! Deixemos esse papel para Bukowski.
Nietzsche tratou Freud que tratou Deus. E quando Deus teve um insight percebeu que havia criado seres humanos e os dotou com sentimentos. A primeira condição humana, antes de pensar é sentir, que me perdoem os evolucionistas, mas percebo o Homem como um ser que ama e que somente depois pensa. E aqui é que nasce a dor e a angustia. Pensar é sofrer, mas também é se libertar das amarras e de crenças amórficas.
A angustia de Deus é a minha angustia: eu não sei se existo ou se sou produto da imaginação de Spielberg.
Um pixel no universo, um verso no oceano,
O amor dentre outros amores
Talvez eu saiba, sinta, perceba,
“Quem eu sou” realmente
E por isso eu fuja de mim mesmo
Como os Judeus fugiram dos Nazistas!