Voltando ao assunto
1 - Não pretendia voltar a este assunto, até em respeito à Quaresma, tempo de recolhimento e penitência.
2 - Mas lendo as gazetas pós-carnaval, verifiquei que não andei sozinho quando, em crônicas anteriores, rabiscadas no auge da folia, chamei algumas músicas do carnaval de Salvador de chulas, medíocres e outras indecentes.
3 - Critiquei-as, e mais uma vez deixo bem claro, sem me aprofundar em considerações em torno da competência ou incompetência de seus autores. Não vejo porque não respeitá-los. Respeito-os, sem exceção.
É provável que tenham entregue ao mercado fonográfico seu trabalho, certos de que estavam agradando os foliões com uma irretocável música carnavalesca. Divulgadas, tocadas, e restou provado que não era bem assim.
4 - Por exemplo, só os desavisados não se deram conta de que o Lepo lepo, escolhida a melhor música do carnaval salvadorense de 2014 com a ajuda da imprensa - e só por isso permito-me citá-la neste nobre espaço - é apenas um pagode de versos pobres, preconceituosos e, se examinados friamente, versos que, com certeza, não sobreviveriam a uma censura séria.
- (Eu não tenho carro, não tenho teto/ E se (ela) ficar comigo é porque gosta/ Do meu ranranranran lepo lepo/ É tão gostoso quando eu ranranranranran o lepo lepo.) E a coreografia?
5 - A coreografia me fez pensar: será que ainda vivemos na condenável era da "boquinha da garrafa"?
6 - Ninguém melhor detalhou a letra e o rebolado do Lepo lepo do que o Professor Luiz Mott, titular de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, em artigo publicado no jornal baiano A Tarde, hoje, 8.3.2014, exato no Dia da Mulher.
Disse o mestre: "As duas músicas de maior sucesso, Lepo lepo e Cavalinho, evocam e coreografam relações sexuais quase explícitas: ´É tão gostoso quando eu ra ra ra o lepo lepo`, acompanhado de gestos da mão e requebros, sugerem realísticamente o órgão viril em pleno ato penetrativo."
E se referindo ao Cavalinho, escreveu o mestre Mott: "A outra canção ´essa mulher quer montar em cima de mim seu cavalinho, mas quem dá palmadinhas sou eu`reproduz a gesticulidade de uma cópula, onde a mulher cavalga o corpo masculino."
7 - No seu artigo, o ilustre professor não condena as duas músicas, mas põe em destaque, sem arrodeios, a mensagem libidinosa que ambas enviam pra mocidade, os principais e mais entusiasmados súditos do Rei Momo. Mas se a massa gostou, fazer o quê?
8 - Podia transcrever trechos de cartas enviadas ao mesmo jornal, estas condenando, com acentuada veemência, as duas "canções", aqui criticadas.
9 - Pois é. Voltei ao assunto, mas juro que a ele jamais retornarei. Estou, com essa história, tornando-me enfadonho diante dos olhos dos meus poucos leitores, e, de repente, lhes corroendo a paciência. Chega.
10 - Mas daqui (zelando por todos eles) faço um apelo aos compositores baianos - os bons, os ruins e os que pensam que são compositores - no sentido de que procurem fazer boas músicas carnavalescas.
Para que nós, foliões ou não, nunca sejamos condenados a ouvir baboseiras durante o prolongado (até demais) carnaval de Salvador. Como aconteceu no ano da Graça de 2014.
1 - Não pretendia voltar a este assunto, até em respeito à Quaresma, tempo de recolhimento e penitência.
2 - Mas lendo as gazetas pós-carnaval, verifiquei que não andei sozinho quando, em crônicas anteriores, rabiscadas no auge da folia, chamei algumas músicas do carnaval de Salvador de chulas, medíocres e outras indecentes.
3 - Critiquei-as, e mais uma vez deixo bem claro, sem me aprofundar em considerações em torno da competência ou incompetência de seus autores. Não vejo porque não respeitá-los. Respeito-os, sem exceção.
É provável que tenham entregue ao mercado fonográfico seu trabalho, certos de que estavam agradando os foliões com uma irretocável música carnavalesca. Divulgadas, tocadas, e restou provado que não era bem assim.
4 - Por exemplo, só os desavisados não se deram conta de que o Lepo lepo, escolhida a melhor música do carnaval salvadorense de 2014 com a ajuda da imprensa - e só por isso permito-me citá-la neste nobre espaço - é apenas um pagode de versos pobres, preconceituosos e, se examinados friamente, versos que, com certeza, não sobreviveriam a uma censura séria.
- (Eu não tenho carro, não tenho teto/ E se (ela) ficar comigo é porque gosta/ Do meu ranranranran lepo lepo/ É tão gostoso quando eu ranranranranran o lepo lepo.) E a coreografia?
5 - A coreografia me fez pensar: será que ainda vivemos na condenável era da "boquinha da garrafa"?
6 - Ninguém melhor detalhou a letra e o rebolado do Lepo lepo do que o Professor Luiz Mott, titular de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, em artigo publicado no jornal baiano A Tarde, hoje, 8.3.2014, exato no Dia da Mulher.
Disse o mestre: "As duas músicas de maior sucesso, Lepo lepo e Cavalinho, evocam e coreografam relações sexuais quase explícitas: ´É tão gostoso quando eu ra ra ra o lepo lepo`, acompanhado de gestos da mão e requebros, sugerem realísticamente o órgão viril em pleno ato penetrativo."
E se referindo ao Cavalinho, escreveu o mestre Mott: "A outra canção ´essa mulher quer montar em cima de mim seu cavalinho, mas quem dá palmadinhas sou eu`reproduz a gesticulidade de uma cópula, onde a mulher cavalga o corpo masculino."
7 - No seu artigo, o ilustre professor não condena as duas músicas, mas põe em destaque, sem arrodeios, a mensagem libidinosa que ambas enviam pra mocidade, os principais e mais entusiasmados súditos do Rei Momo. Mas se a massa gostou, fazer o quê?
8 - Podia transcrever trechos de cartas enviadas ao mesmo jornal, estas condenando, com acentuada veemência, as duas "canções", aqui criticadas.
9 - Pois é. Voltei ao assunto, mas juro que a ele jamais retornarei. Estou, com essa história, tornando-me enfadonho diante dos olhos dos meus poucos leitores, e, de repente, lhes corroendo a paciência. Chega.
10 - Mas daqui (zelando por todos eles) faço um apelo aos compositores baianos - os bons, os ruins e os que pensam que são compositores - no sentido de que procurem fazer boas músicas carnavalescas.
Para que nós, foliões ou não, nunca sejamos condenados a ouvir baboseiras durante o prolongado (até demais) carnaval de Salvador. Como aconteceu no ano da Graça de 2014.