O Meu Pecado Capital

Entre um intervalo e outro,das milhares de coisas que se acumulam a fazer, sinto que não estou sendo movida por nenhuma inspiração doce que façam as pontas dos meus lápis produzirem coisas que mereçam uma passada de olhos. Enquanto que os meus olhos, o lápis, contorna levemente de preto e faz companhia ao Rímel que quase nunca permanece perfeito pelo tempo que preciso na minha jornada de trabalho diária. Mas, acho bem possível que meu maior pecado no momento seja a vaidade. Essa vaidade de ter nascido mulher, e por isso caminhar sempre sob olhares e sussurros, por vezes maliciosos, de seres que ainda não saíram do nível da imbecibilidade. Passo discretamente pisando no meu salto, sem demonstrar que pareço pisar em ovos, e com o olhar constrangido guardado atrás dos óculos escuros. Não esbanjo beleza. Talvez apenas um leve rastro do meu perfume. Eu simplesmente nasci portando o mesmo sexo daquela que me deu à luz. Essa é minha vaidade e minha culpa. Meu maior orgulho e meu maior constrangimento. Beijaria com batom o papel que escrevo, se não houvesse a dúvida de quantas inspirações doces ainda pode haver num mundo que anda tão hostil.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 08/03/2014
Código do texto: T4720236
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