Balanços
Minha mãe foi alimentar os peixes do aquário e descobriu que um deles havia morrido. Sem dúvida foi de saudades do meu pai – ele próprio morrera alguns dias antes. Também um dos seus canários repentinamente adoeceu. E até mesmo a sua xícara de café, a única xícara que usava para tomar café, caiu no chão e se partiu. Todas as coisas a que meu pai dedicou algum afeto – até mesmo as inanimadas – estão sentindo a sua falta. Desnecessário falar da minha mãe, que parece querer ruir junto com o casamento de 56 anos. No próximo sábado ela faz aniversário. Já anunciou melancolicamente que este deve ser o último aniversário dela. Todo mundo negou veementemente, mas a verdade é que eu não duvido. Desde a doença do meu pai que ela própria não anda muito bem de saúde. Já tem marcado exame, porque está com algum problema no intestino – e problema no intestino preocupa.
Vou visitá-la todo dia na hora do almoço. Hoje ela me mostrou a quantidade de contas e propagandas que continuam chegando em nome do meu pai. Mas o pior são as ligações – continuam ligando para o meu pai. E minha mãe precisa então repetir aquilo que vem tentando esquecer: “Ele já é falecido”. Contou-me isso e depois silenciou, e eu também não sabia mais o que dizer. Logo ela foi se deitar e eu precisava voltar ao serviço. Mas ainda fiquei lá, caminhando pela casa, que agora me parecia tão grande, vazia.
E silenciosa, porque tudo o que eu ouvia eram os ponteiros de um relógio de parede, presente da minha irmã no dia das Bodas de Prata. Subi até os quartos, aqueles em que todos nós vivíamos antes de nos casar. Fiquei lembrando coisas antigas e depois saí para os fundos da casa, onde ainda existe um balanço do tempo da minha infância. Lembrei de uma foto dessa época, eu e minha irmã sentados ali mesmo – ela séria e eu sorrindo estranho. Foi tirada justamente pelo meu pai. Voltei a sentar ali e fechei os olhos. Deixei-me balançar, mas lentamente – eu desejava que as coisas não balançassem tanto assim.