Aquele Casal Anônimo
Há pessoas que são conhecidas pelos seus nomes, suas profissões, seus apelidos ou por tornarem, devido suas excentricidades, folclóricas.
Em toda comunidade elas existem. Claro, todos têm um nome, uma profissão, alguns um apelido e outras uma forma diferente de ser.
Existem também as pessoas anônimas ou quase anônimas. Conhecidas apenas pelos seus familiares, seus vizinhos e a quem lhes prestam serviços. A maioria da comunidade não lhes nomeiam ou pouco percebem suas existências.
Há pessoas “sem nomes” ou alcunhas, passam quase despercebidas se não fossem suas imagens, seus modos, seus jeitos que fazem criar no imaginário – os mais curiosos que se ocupam de observar a vida alheia - interrogações, exemplos, modelos, idealizações de harmonia por aqueles que lhes observam. E é assim que são conhecidos anonimamente. Despossuídos de vocativos se fazem apenas de aparências e jeitos que pouco chamam a atenção de terceiros. São quase dados ao silêncio absoluto.
Pelo caminho que passo sempre eu encontrei um casal que vive lá pelos seus setenta a oitenta anos de idade atualmente e que sempre me enterneceram pelo cuidado que têm um com o outro.
Eu os vejo decidirem juntos que melhor legume, verdura ou fruta comprarem na mercearia. Que quantidade e que tipo de carne eles levaram do açougue. Biscoitos, bolo, ou pão que vão pedir na padaria.
E como suas idades são avançadas e a mercaria, o açougue e a padaria são próximos chego à conclusão que eles moram próximos destes lugares, são sozinhos e a vida lhes fez muito companheiros.
Venceram as dificuldades, as diferenças e são tão solícitos um com o outro que se tornaram realmente “uma só carne e um só coração.”
Passaram dias, meses talvez, que eu não os via. Até que um dia destes ali estavam aquele senhor e aquela senhora anônima. Pareciam estar mais desgastados, mais velhos. E ela deve ter enfrentado problemas de saúde grave. Porque, se antes andavam de braços dados, ele agora praticamente lhe arrastava, lhe carregava com o braço dado a ela que seguia escorregando pelo chão a ponta de seus pés.
Deixam o exemplo de maior solidariedade, união, verdadeiro casamento, companheirismo, abnegação e supressão de egoísmos.
Não sei seus nomes e nem ao certo onde moram. Mas a vida lhes conhece e cuidará deles como sempre cuidou.
Conheço suas faces e seus jeitos quando por eles passo. E sei que aprenderam o significado de ser humano e verdadeiro casal que se doaram um ao outro. Alguma desavença entre eles? Claro, deve ter ocorrido, mas nada que a vida em comum e juntos não superaram ou os anos não lhes fizeram perdoar.
Leonardo Lisbôa.
Barbacena, 07/03/2014.