O pecado “mortal” do Papa Francisco
"A função correta de um amigo consiste em
apoiar-te quando erras. Infelizmente, a maior
parte das pessoas só está do seu lado enquan-
to permaneces no caminho certo."
Mark Twain
"A função correta de um amigo consiste em
apoiar-te quando erras. Infelizmente, a maior
parte das pessoas só está do seu lado enquan-
to permaneces no caminho certo."
Mark Twain
Volto aos meus sete anos. Sim, minha amiga leitora, meu amigo leitor, retorno ao meu passado. Dirão meus amigos: -“mas lá vem você de novo com suas lembranças estapafúrdias, já não confessou tudo nas suas crônicas?”
Depois de ouvir o Santo Papa dizer que roubara na juventude um crucifixo de um morto, não pude deixar de me recordar do meu “roubo”. Mais adiante, contarei, fiquem calmos meus amigos e amigas.
Vamos primeiro ao pecado do Papa. Na verdade, tecnicamente, o Papa cometeu um furto e não um roubo. No furto não há violência contra a pessoa. No velório do padre Aristide, confessor do Papa na juventude, o nosso Francisco viu um rosário nas mãos do seu estimado confessor. Disfarçando que estava embelezando o caixão com umas flores, surrupiou rapidamente a cruz do rosário( um gesto perfeitamente desculpável). Diz o Papa que leva com ele a cruz em uma bolsinha na altura do peito. E para lembrar que já foi um pecador, quando vem à sua mente um mau pensamento sobre alguém, leva a mão ao peito para tocar nessa cruz.
Voltemos ao meu pecado. Aos sete anos, na rua Santo Amaro, no Rio, todos sabiam que eu vivia jogando bola de gude à vera com os moleques da rua. Minhas bolinhas eram “olhinhos” (aquelas bolinhas coloridas, de grande beleza), que, invariavelmente, perdia para meus amiguinhos mais espertos. Os amigos costumavam jogar com bolinhas de uma cor só e quase sempre quebradas. Houve um dia em que perdi mais de dez “olhinhos”. Estava arrasado. Foi nesse dia que cometi meu pecado. O Gerson me chama para ver na casa dele os “olhinhos “ que ele tinha. Abriu uma gaveta no quarto dele e vi, maravilhado, mais de mil bolinhas de gude, todas coloridas. Num lance rápido, “papei” (esse papei veio a calhar com o lance do Papa) uma mísera bolinha, imediatamente escondida no bolso da minha calça curta. Tecnicamente, como os amigos sabem, foi um furto também.
À noite, não consegui dormir. Minha consciência me açoitava de todos os jeitos. Exausto, me sentindo nas trevas, logo de manhã, inventei um pretexto para ir à casa do Gerson e, vendo novamente as mil bolinhas, ou melhor dizendo, as 999 bolinhas, deixei a bolinha furtada com as suas companheiras. Aconteceu, como se diz em Direito Penal, um arrependimento eficaz.
Não sei se lamento, depois de saber da história do Papa, que não tenha ficado com a bolinha, só pra lembrar que sou, como qualquer um, um pecador. Meu superego não deixou. Aliás, convenhamos, foi bom saber só agora do pecado “papal”. O sentimento do pecado não é a melhor maneira para se viver bem. Como dizia Bertrand Russell, o homem racional vê seus atos indesejáveis da mesma forma como vê os dos outros, como atos provocados por determinadas circunstâncias e que devem ser evitados.
Talvez o incômodo de trazer uma bolinha de gude no peito por toda a vida me fez lembrar que este pequenino fato não tem essa importância capital que certas religiões desejam incutir em seus fiéis.
Este meu comodismo me fez abandonar qualquer tipo de religião formal, mas minha biologia particular me faz trilhar o caminho da ética, o caminho do meio, sem que por isso me ache melhor ou pior do que ninguém.
Depois de ouvir o Santo Papa dizer que roubara na juventude um crucifixo de um morto, não pude deixar de me recordar do meu “roubo”. Mais adiante, contarei, fiquem calmos meus amigos e amigas.
Vamos primeiro ao pecado do Papa. Na verdade, tecnicamente, o Papa cometeu um furto e não um roubo. No furto não há violência contra a pessoa. No velório do padre Aristide, confessor do Papa na juventude, o nosso Francisco viu um rosário nas mãos do seu estimado confessor. Disfarçando que estava embelezando o caixão com umas flores, surrupiou rapidamente a cruz do rosário( um gesto perfeitamente desculpável). Diz o Papa que leva com ele a cruz em uma bolsinha na altura do peito. E para lembrar que já foi um pecador, quando vem à sua mente um mau pensamento sobre alguém, leva a mão ao peito para tocar nessa cruz.
Voltemos ao meu pecado. Aos sete anos, na rua Santo Amaro, no Rio, todos sabiam que eu vivia jogando bola de gude à vera com os moleques da rua. Minhas bolinhas eram “olhinhos” (aquelas bolinhas coloridas, de grande beleza), que, invariavelmente, perdia para meus amiguinhos mais espertos. Os amigos costumavam jogar com bolinhas de uma cor só e quase sempre quebradas. Houve um dia em que perdi mais de dez “olhinhos”. Estava arrasado. Foi nesse dia que cometi meu pecado. O Gerson me chama para ver na casa dele os “olhinhos “ que ele tinha. Abriu uma gaveta no quarto dele e vi, maravilhado, mais de mil bolinhas de gude, todas coloridas. Num lance rápido, “papei” (esse papei veio a calhar com o lance do Papa) uma mísera bolinha, imediatamente escondida no bolso da minha calça curta. Tecnicamente, como os amigos sabem, foi um furto também.
À noite, não consegui dormir. Minha consciência me açoitava de todos os jeitos. Exausto, me sentindo nas trevas, logo de manhã, inventei um pretexto para ir à casa do Gerson e, vendo novamente as mil bolinhas, ou melhor dizendo, as 999 bolinhas, deixei a bolinha furtada com as suas companheiras. Aconteceu, como se diz em Direito Penal, um arrependimento eficaz.
Não sei se lamento, depois de saber da história do Papa, que não tenha ficado com a bolinha, só pra lembrar que sou, como qualquer um, um pecador. Meu superego não deixou. Aliás, convenhamos, foi bom saber só agora do pecado “papal”. O sentimento do pecado não é a melhor maneira para se viver bem. Como dizia Bertrand Russell, o homem racional vê seus atos indesejáveis da mesma forma como vê os dos outros, como atos provocados por determinadas circunstâncias e que devem ser evitados.
Talvez o incômodo de trazer uma bolinha de gude no peito por toda a vida me fez lembrar que este pequenino fato não tem essa importância capital que certas religiões desejam incutir em seus fiéis.
Este meu comodismo me fez abandonar qualquer tipo de religião formal, mas minha biologia particular me faz trilhar o caminho da ética, o caminho do meio, sem que por isso me ache melhor ou pior do que ninguém.