QUEM PROCURA...
De Coutinho todos procuravam fugir: no bar do Carneiro, no trabalho, nas raras festas de família para as quais ele era convidado. Coutinho era um chato incurável, de uma inconveniência avassaladora.
Queria saber quanto Fulano ganhava, quanto Beltrano pagara pelo carro novo, se a mulher de Sicrano casara virgem. Passava o dia na porta do prédio em que morava, para acompanhar o entra e sai dos vizinhos. Não raro, quando alguém chegava com uma sacola nas mãos, perguntava:
-- O que temos de bom aí?
Justamente por isso, causava estranheza o fato de Donato – só ele, mais ninguém – ter tanta paciência com Coutinho.
Certo dia, Donato esqueceu o celular na mesa do bar. Coutinho não se fez de rogado: pegou a aparelho do amigo, acessou a lista de contatos e a de mensagens.
Depois, partiu para as fotos. Ficou excitado quando se deparou com a imagem de uma mulherona seminua. A excitação cresceu – e muito – quando a viu pelada, em poses pornográficas. Aquele corpão violão não lhe era de todo estranho. Quem seria a beldade? Descobriu logo em seguida. A beldade era Maria Rita, sua mulher.
Um infarto fulminante levou a bisbilhotice de Coutinho sabe-se lá pra aonde. De volta ao bar, Donato chamou o SAMU, tirou o celular das mãos do morto e apagou as fotos. E foi ao velório consolar a viúva.
(www.orlandosilveira1956.blogspot.com.br)