DA PRÓXIMA VEZ, LEMBRE-SE!
“Nem direita nem esquerda. Eu quero ir é pra frente”.
Frase retirada das manifestações de junho/2013
“Ai, meu Deus, quando será que tudo isso vai terminar?!”
Se você mora ou tem estado em Laranjal do Jari nos últimos quatro meses, já deve ter ouvido essa indagação lamuriosa de algum cidadão deste município referindo-se ao que se convencionou chamar “crise de instabilidade política por conta das constantes trocas de prefeito”.
Já deve ter ouvido também, inclusive através de programas radiofônicos, as mais diversas explicações e propostas de soluções para a “terrível crise”. As proposições vão das mais convencionais, como: analisar mais criteriosamente os perfis dos candidatos durante o processo eleitoral, às mais inusitadas e desesperadoras, como a que recomenda ao eleitor vender seu voto para um candidato e entregar o ‘produto’ a outro. Há ainda os que insistem que a panaceia político-administrativa para Laranjal do Jari está pura e tão somente em impedir, a qualquer custo, que candidatos da região metropolitana sejam eleitos com votos do interior – uma espécie de xenofobia às avessas.
Enquanto isso, as frases e bordões retirados das homéricas manifestações de junho/2013 tornam-se a última moda a adornar os status das redes sociais da vida.
Do meu diário de internauta de quinta, destaco algumas dessas raridades não apenas pela comicidade que inspiram, mas pelo caráter reflexivo que nos concitam a adotar.
“Não adianta protestar como leão e votar como jumento”.
“Não são os governantes que se transformam em criminosos. É o povo que transforma criminosos em governantes”.
“Sociedade muda não muda”. Etc.
Tendo como incentivo algumas das famosas frases aqui mencionadas e no afã de também contribuir para a solução da “terrível crise”, atrevo-me a emitir alguns palpites.
Que tal substituirmos expressões como “procuração em branco” por “termo de compromisso” para nos referirmos ao ato de votar? Afinal, quem disse que ao escolher um representante eu estou transferindo para ele as minhas responsabilidades civis de cidadão e inatas de político? Aliás, diga-se de passagem, a partir do momento que é obrigatório, o voto deixa de ser uma ação política, tornando-se um ato jurídico – muito mais um dever do que um direito. Que tal, ao invés de ficarmos apenas reclamando da Justiça Eleitoral e lamentando a terrível “crise de instabilidade política”, denunciarmos a proposta de compra de voto; recusarmos a barganha para melhor me ajustar no serviço público, ou rejeitar o suborno para ganhar a concorrência ou para poder receber a fatura empenhada? Que tal substituirmos pela institucionalização o personalismo; pela formalidade o fisiologismo; o aliciamento, o nepotismo e o tráfico de influência pela análise curricular imparcial, o aferimento da técnica e a comprovação de competências?
Será que a tal crise teria chegado a esse ponto se as comissões de licitações, os diversos conselhos, as empresas prestadoras de serviços, a Câmara de Vereadores, outros órgãos fiscalizadores e, principalmente nós, os cidadãos comuns não tivéssemos, muitas vezes, nos escondido atrás da tal “procuração em branco” e nos eximido de nosso dever de partícipe da gestão do município?
Ninguém está proibido – nem deve se permitir ser – de reclamar, lamentar e protestar. Porém, num sistema em que a máxima é que “o poder vem do povo e é exercido por este”, nunca é demais lembrar que sociedade deriva de sócio, o que, por sua vez, significa parte de um todo. Se somos sócios, logo não existe procuração em branco. A responsabilidade é de todos.
E para não fugir à moda do momento, fica a deixa: da próxima vez que for protestar, lembre-se: “quem ajuda eleger governantes corruptos [e se exime de fiscalizá-los e, quando necessário, denunciá-los] não é vítima; é cúmplice”.