Bofe Nada Escândalo.
Por Carlos Sena



Tinha tanta gente no encerramento do carnaval no Recife antigo que não pude deixar de ficar observando o que me acontecia em volta. Tinha “marmota” pra todo gosto. Tinha trepeça, tinha puta, tinha mulher direita, tinha viado doido, viado comportado. Sapatão? Tinha a dar com o pau. Maconheiro? Não tinha nem graça, mas fumaça tal qual o fumacê do controle da dengue. Mas, o que mais me chamou atenção foi uma puta metida a senhora casada. A cena patética aconteceu nas minhas fuças, pois não havia condição de sair dali por conta do amontoado de tanta gente. Como não tinha outra opção, imaginei: “o ultimo pingo continua sendo o da cueca”. Assim, fiz daquela quenga e daquele macho idiota, uma forma de diversão. No palco Alceu e, em seguida, Elba. Na minha frente aquele casal cheio de “amores” fictícios tal qual marinheiro que o navio apita e ele vai embora. O cara era um sujeito feio, mas bombado. Mostrava sua musculatura por nada. Ela, uma feiosa mais velha do que o “bofe” e com atitudes de rapariga que trai o marido e ainda tem a pachorra de posar de pudica. Mas, o cara, a despeito de ser feio, cafona, meio “barbe” em cima do muro, logo parecia ter sacado a daquela “zinha” que ele estava querendo lhe enganar passando-se por madame.  Em determinado momento daquele chamego meio sem graça (e que chamava a atenção de todos) ela, a “fuinha” (parecia um “soin” (sagui) ) tudo indicava ter entendido  que aquele macho não era de nada e só tinha arranco feito carro velho. Então, imaginei, ela teria começado a “greiar” com a cara do macho babaca que, ao que tudo indicava, adorava mostrar os bíceps, talvez para compensar sua feiura e seu mal caratismo expresso. Nesse ínterim, a orquestra de frevos deu uma paradinha para a entrada de Elba e todos puderam ouvir mais nitidamente as conversas daquele exagerado casal. Não bastassem as cenas de beijo forçado, o rapaz deslizava suas mãos pela bunda da quenga e ela se arretava com ele, mas ficava calada. Ele insistia em pegar novamente sua bunda e, subido, ela diz: “você parece que é viado, pois só quer ficar pegando na minha bunda, porra. Eu sou uma mulher mãe de família. Se eu soubesse que você era tão safado não tinha vindo. E só não me vou embora porque eu estou com minha sobrinha e ela quer ver o show de Elba”. O cara ficou sem graça. Sua garrafa de uísque Cavalo Branco chegara ao fim e ele ia baixando o fogo na mesma medida que a bebida se acabava. Mesmo assim ele tentava beijá-la, mas ela se fazia de difícil e mudava o rosto para o outro lado. Ele fazia outro movimento contrário para beijar, mas ela não deixava. De repente:  “tu nem beijar sabe”. Eu vou te ensinar! Tascou-lhe um beijo meio lambrecado de cuspe e ele ficou todo ancho. Mas, ela logo voltou ao seu estado original de abuso. Nisto, ele dá uma chamada na cintura dela e roça com seu “tacape” bem em frente da sua “bela rosa”... Ela dá-lhe um empurrão e volta a repetir pra ele que “não sou puta, sou uma mãe de família, etc. etc.”. 
De repente, a orquestra começa a tocar e Elba entra com todo gás. Nisto, como num passe de mágica, o casal some. Acho que ela se desvencilhou dele e sumiu. Ele, certamente,  deve ter saído derrubando todo mundo pra ver se recuperava sua puta. Essa é a explicação que tive para o sumiço deles, diante daquele espetáculo grotesco que vimos, de graça, em pleno carnaval do Recife. Detalhe: a quenguinha guando se agarrava no pescoço do “bofe nada escândalo” mostrava uma aliança de casada que mais parecia um pneu de carro, de tão grossa. O corno, coitado, certamente estava em sua casa aguardado a mulherzinha que tava dando pra quem quisesse no carnaval. Outra coisa que me encafifou: o uísque do “bofe” era Cavalo Branco, quando uma garrafa de cana ficava mais adequada aquelas cenas grotescas, embora em pleno carnaval.