Belarmino e o Jegue

Estava eu posto em sossego, assoviando uma marchinha de carnaval quando recebi um recado no whatsapp:

“Seu Nirsso, perciso fala cosiôr. Mino”

Nossa! As palavras são inconfundíveis mas o meio é inusitado: whatsapp! E um apelido! Concluo que esse mundo está mesmo "avançado" e muito breve não restará nenhuma lembrança dos velhos tempos em que as pessoas sentiam o hálito das outras. E, cá entre nós, esse pode ser um efeito colateral positivo...

Fui imediatamente ao sítio em que o Belarmino é caseiro. Logo ao chegar perguntei o que era esse negócio de usar o whatsapp?

“Seu Nirsso, premero bom dia, que fais tempo que a gente num si vê.  Arrendei, qui um dia aina vô sabê a palavra certa, esse ameaço di telefone i num é qui tô usano esse trem prá daná, iscrusivi o uatsapi. Si é bom pros jóvi deve di sê prá eu tomem qui tô cada dia mais jóvi cos meus 61 ano.”

O Belarmino é muito perspicaz e com todo o seu jeitão tosco, está sempre ligado nos acontecimentos, tendo uma interpretação muito própria a respeito de tudo. E adora me provocar:

“Seu Nirsso, mi diz u’a coisa  o siôr qui é tão distruído das coisas do pranarto: eu num tô intendeno nadinha do que passa. Diz que a presidente tá na frente das intenção di voto. Me isprica o que é intenção di voto?”

Com toda paciência, digo que algum tempo antes das eleições, os institutos de pesquisa realizam sondagens com a população e para isso selecionam amostras, um pequeno percentual da população total, com representantes proporcionais de todas as classes sociais e regiões e perguntam em quem as pessoas votariam se a eleição fosse naquele momento, em quem não votariam de jeito nenhum e os resultados são divulgados. Aparentemente, de fato a presidente tem a preferência popular prá se reeleger, até pelo fato de não haver outras opções viáveis.

“Intão é assim ques faiz? O siôr conhece arguem qui já foi preguntado dessas coisa? “

Explico que essas pesquisas são feitas por entidades sérias e que não iriam comprometer a sua credibilidade inventando pesquisas não realizadas.

“Intão eu acho que o povo Brasilero é muito mais chucro qui o jegue Elesbão. Pois si ela dá um dinheirão pra Cuba i abraça Venezuela i Argentina qui tão caino no abismo, o sôr num acha que nóis vamo acabá caino tomem? Nóis aqui continuamo percisano de hospitar decente, istrada, iscola, prá num falá das farcatrua e das corrupição qui nunca num se viu tamanha na historia desse país.
Qui que nós tinha que si metê com Cuba, Argentina, Venezuela? Pra num falá dos mensalero que vão se sorto daqui a arguns meis...

Si a presidenta for eleita di novo, nois num vamu tá quinem Venezuela, Argentina i Cuba. É esse o futuro qui nóis queremo pros nossos fio i neto?"


Belarmino, você precisa entender que em termos de política externa há muito mais implicações do que as que conseguimos enxergar.  Algumas vezes, é estratégico oferecer ajuda a outros países visando benefícios ou alianças futuras que escapam à nossa percepção mais imediata.

Quanto às obras de infra-estrutura, o governo está fazendo o possível dentro das limitações do orçamento. A corrupção sempre existiu mas agora, graças às ações do governo, está ficando mais transparente. Quanto à liberação próxima dos mensaleiros, a questão foi decidida pelos Juizes do Supremo Tribunal Federal.

E que se a presidente for reeleita, nós continuaremos no bom caminho para nos tornar uma das maiores nações do mundo.

“ Seu Nirsso, conta ôtra qui eu num sô jegue...”

 
Leonilsson
Enviado por Leonilsson em 05/03/2014
Reeditado em 14/03/2014
Código do texto: T4715935
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