O incrível dia em que quase gastei R$ 280,00 em livros

Deixando a seriedade de todos os textos acá já postados de lado, pelo menos por ora, hora de celebrar, a minha maneira, o carnaval, com escritos humorísticos (ou que, pelo menos, pareçam assim). E hoje, trago-lhes um ocorrido comigo, recentemente, para ser mais exato, na data de ontem, mas antes vamos começar com uma breve recapitulação necessária.

De acordo com o que foi postado aqui pela minha pessoa até a presente data de hoje, é possível traçar um perfil psicológico deste falso escritor (sim, meus nobres e queridos leitores, espero que o façam). A partir disso, pode-se saber muito da vida dele. Uma vida regada a solidão, em certas ocasiões, uma pessoa triste, amargurada, um caso sui generis (e um ótimo fingidor, ator, ser melodramático, em partes, o que foi dito aqui é verdade, mas não nessa intensidade toda, por favor, não vão pensar que sou um ermitão que prefere escrever, ler, ou simplesmente isolar-se ao invés de ter contato humano). É (ou foi, depende do que você faz amanhã) carnaval e todos tem os seus planos para essa época. Se não tem planos, tem seus afazeres. Como é de costume (não sempre, mas uma boa parte das vezes), fui um dos poucos seres que não me encontrava em nenhuma dessas categorias elencadas acima. Então, o que foi que fiz nesse carnaval? Nada, exceto botar a leitura em dia. E falando em leitura, foi justamente ela que, indiretamente, me garantiu mais uma desventura cômica que se deu comigo na data de ontem, como já dito. Dado essa explicação preliminar, passemos ao caso.

Ontem, como uma borboleta após metamorfosear, saí do meu casulo, do meu cárcere privado auto-imposto por mim e pelas circunstâncias. Fui e realizei um típico passeio burguês de paulistanos, ir aonde? Ao shopping.

Realmente, tenho um pensamento não muito favorável a esses templos de consumo burgueses, não gosto muito deles. Mas tem certas coisas que me obrigam a ir neles, como, cinemas, algumas lojas específicas para coisas que são do meu gosto e livrarias. Ah, esses templos de conhecimento, de sabedoria. São sempre locais que engrandecem, enaltecem e enobrecem o ser humano. E quando a livraria é convidativa e não apenas um local comercial, ah, é o paraíso!

Na data já relatada fui ao shopping, em uma livraria. E o gozado é o jeito que escolhi para comprar livros. É verdade que tem alguns livros que já vô com eles matutando na cabeça para comprá-los, mas esses são casos minoritários. O bom mesmo é ir numa livraria como uma [falsa] premissa (ou agora, homenageando o Robocop) diretriz básica no pensamento: Não comprarei livro algum. É mais emocionante comprar livros assim, mesmo porque, essa premissa quase sempre cai por terra em alguns poucos minutos. Parece que ocorre algo que te leva ao livro e o livro a ti e você termina por levá-lo contigo. Mas ocorre algo engraçado algumas vezes. Às vezes você vai para a livraria com vontade de comprar livros e sai de lá de mãos abanando, decepcionado, chateado, frustrado, por não ter comprado nada. E outras vezes que você vai lá, sem pretensão alguma e sai de lá ou com vários exemplares comprados, ou com a vontade de comprar inúmeros livros. E foi justamente isso que me sucedeu ontem.

Ao entrar na livraria, sem pretensão alguma, friso novamente, ocorreu-me de encontrar uma infinidade de livros que me diziam respeito e eram do meu interesse, do meu agrado. Sinceramente, não sei dizer ao certo quantos livros peguei a priori, creio eu que foram uns treze, totalizando o montante expresso acima no título. Mas necessitei sair da loja para fazer das minhas coisas e necessidades. Deixei a pilha de livros lá largada. Geralmente, quando preciso sair e não compro nada, uso táticas da MOSSAD para esconder o livro querido e na próxima vez que entrar no local, provavelmente lá estará e assim posso comprar o meu querido amigo. Mas por ser uma pilha gigantesca que mal conseguia levar na mão, não pude fazê-lo, já que a necessidade de resolver meus negócios era extremamente urgente.

Negócios resolvidos e passado um tempo, volto a livraria. Qual foi minha surpresa ao descobrir que meus livros "sumiram". Meu mundo desabou. Fiquei triste, raivoso, irado, quando isso se sucedeu. Pensei comigo "não comprarei livro coisa alguma! Isso lá é coisa que se faça com cliente em potencial e que viria comprá-los dali a pouco?" Hoje ao ver, sou forçado a parabenizar os vendedores, porém terem guardado os livros direitinho, já que é da sua função, quando um vândalo desorganiza os livros e sai repentinamente, sem comprá-los.

Mas, o amor a literatura é sempre mais forte. Minha resolução que tomara há pouco, já não mais existia. Lembrei dalguns exemplares, reuni-os novamente, ponderei sobre qual levar e qual não, acabei deixando uns seis livros para trás, não sem antes anotar que preciso comprá-los. Quando estou prestes a ir para o caixa, surge um cidadão que se interessou por um livro que estava comigo, "Madame Bovary" de Gustave Flaubert e ele, no alto do seu desgosto (creio eu) de não estar com o livro pretendido em mãos, pergunta-me educadamente (em palavras livres, pois não guardo delas, apenas o sentido da conversa):

- Com licença, mas você vai comprar esse livro?

- Acho que vou, sim.

- Bem, se você não for comprá-lo, pode me avisar, por favor?

Digo que avisaria sim. Antes de ir ao caixa, fui ver os livros nas prateleiras para ter certeza de que eram apenas esses que estavam nas minhas mãos que levaria comigo. Ao conferir, noto que aquele livro que se encontrava comigo era o último exemplar. Nem sei se o cidadão se encontrava ou não na loja àquela altura, mas um pensamento maligno, malévolo, veio-me a cabeça: "quer saber? ou sou eu, ou é ele, só um de nós pode levar o livro. voto em mim!".

Caro amigo de literatura que desconheço o nome e toda e qualquer outra informação a respeito de você, caso esteja lendo esse texto agora, peço encarecidamente que me perdoe e que me compreenda. Fiquei com dó de você por não poder ter o que você quis àquela altura. Sei exatamente como é isso, o que, aliás, está relatado em vários escritos meus aqui. Mas não havia outra solução para esse problema. Matematicamente falando, 1 - 1 = 0. Espero sinceramente que você consiga o teu sonhado exemplar deste livro.

Por óbvio, não comprei esse livro por somente esse motivo egoístico acá relatado. "Madame" é um dos livros mais mamilos (leia-se polêmicos) de todos os tempos. E adoro isso.

Passado tudo isso, pago o preço (R$ 140,60) e vou embora, feliz da vida por ter, depois de longos tempos, comprado novos livros.

Poderia encerrar a crônica aqui, mas, é preciso voltar ao título. Algum leitor esperto (espero que os tenha) pode aperceber-se da no mínimo, contrariedade expressa no texto. Ora falo com uma certa oposição a esses templos burgueses consumistas, mas ora sou o ser consumista, gastando horrores em livros. Sim, meu caro, nobre e esperto leitor, estás absolutamente certo ao deduzir isso. A diferença, julgo, está na finalidade. Se consumo cultura, informação, conhecimento, faço isso com um determinado fim, que é, poder escrever essas muitas linhas tortas e porcas, mas que podem tocar, sensibilizar, conscientizar alguns leitores, como dito em outro escrito meu. Enfim, tudo tem um fim que é mais adiante, para melhorar, para transformar, para mudar.

Enfim, isso é tudo.

Bom carnaval a todos!