Em nome da amizade
 
   Só alguem com o nome de Rosa pode transformar uma certa manhã em poesia. Só alguém que é filha de dona Ephigenia com "ph" e sem acento pode ser parte de uma história  que inclui perdas e despedidas, mas que de certa forma ensinam o que a gente precisa aprender mais.[
   Em uma dessas manhãs insuportavelmente quentes, com a pele melada, abro o correio eletrônico e lá está a mensagem de Rosa. "Para todas as mães, aquelas tranquilas, aquelas  menos tranquilas, aquelas que não deixam nada passar. A todas as mães".
   Em seguida, ela envia o texto: "Aos filhos, de autoria de Ana Guilherme que é um verdadeiro manifesto. "Eu lhe dei a vida. Mas não posso vivê-la por você. Eu posso mostrar-lhe caminhos. Mas não posso estar neles para liderar você Eu posso levá-lo à igreja. Mas não posso fazer com que tenha fé. Eu posso mostrar-lhe a diferênça entre o certo e o errado. Mas não posso fazê-lo bonito por dentro. Eu posso aconcelhá-lo sobre amigos. Mas não posso escolhê-los por você. Eu posso informá-lo sobre álcool e drogas. Mas não dizer "não" por você. Mas não posso impor-lhe Deus. Eu posso dar-lhe amor incondicional por toda a minha existência. E isso eu farei".
   Só alguém como Rosa pode regar as manhãs ressecadas com mensagens como essa. Obrigada, Rosa, por absolver as mães de todas as culpas dessa missão quase impossível que é educar. Obrigada, Rosa, por dizer às mães que elas são todo-poderosas. Embora tenham ligação com Deus e com toda a milicia celeste, as mães são apenas representantes de algo maior, só as mães, não é Rosa?
   Só alguém como Rosa pode dar colo a todas as mães que acham que não fazem o suficiente, que precisam da certeza de que os filhos vão se dar bem nesta vida e não vão cair nos buracos do caminho. Muitas vezes, Rosa, as mães têm vontade de deitar em cima do buraco para que os filhos  não fiquem em perigo constante, para que não sangrem se por acaso tropeçam.
   Só você, Rosa, para dizer a todas as mães que sosseguem, pois os filhos terão que prosseguir sozinhos, mas que os valores ensinados ao longo de toda a vida vão emergir nos momentos difíceis. Eles se lembrarão, não é Rosa? De todas as lições, da incansável ladainha das mães. "Não faça isso". "Preste atenção naquilo". Eles jamais vão se esquecer que são seres em construção e moldados com a argila do afeto e da compreensão, mesmo que tudo prove o contrário. 
   Só você, Rosa, filha da professora Ephigenia e do senhor Helton, que não estão mais entre nós, para dizer que os seus pais continuam vivos dentro da gente, que nunca morrrem. Que dona Ephigenia, onde quer que esteja, continua como guardiã do amor de uma mãe por seus filhos. Só você, Rosa, pra mostrar que as mães fazem o melhor que podem e que ao partirem deixam o perfume das flores nos jardins de Santa Lúzia ou o abraço do Ipê com o Flamboyant, que representa o eterno amor dos pais. Só pra dizer que qualquer dia desses vou aceitar o convite para o almoço, aos pés das árvores que não se separam,mesmo depois de todas as tempestades e ventanias.
  Qualquer dia, Rosa, pego seu irmão Gustavo pela mão e desembarco no jardim de dona Ephigenia. À sombra do ipê que abraça o flamboyant, estaremos todos juntos. Contaremos histórias de vida e trocaremos lembranças de mães e pais que conseguiram criar filhos sólidos, altivos e que sempre abrigam os amigos em todas as estações.

                                    Déa Januzzi
                             Escriora e Jornalista

— Texto publicado no Jornal Estado de Minas, 4/11/2012