Gente que rala
O país que vive sob o fantasma da inflação galopante impactou sobre a população, cria-se o exercito de desempregados em todas as regiões. Explode no país uma corrida ao Paraguai, cresce o mercado informal de ambulantes, a luta pela sobrevivência à luz do contrabando. A perigosa luz no túnel, falso resgate da moral. Arriscam-se todas as economias no Sonho feito de bugigangas eletrônicas.
As autoridades em nome da lei e interesses dos comerciantes legais entram em cena aos olhos da sociedade discriminadora e inerte. Seguranças truculentos expulsam e batem com uso da força bruta, são os grupos dos “rapas”. Há uma perda da batalha diária destes pobres com suas mercadorias misturadas entre lagrimas e sangue pelas ruas. Resolutos se organizam, criam raízes encravadas nas praças, ruas da cidade. Sobrevivem humorados com um sorriso feliz a esconder o medo, as dificuldades. São vendedores de sonhos de consumo ao alcance de todos.
Agora vejo este moço de sorriso alegre a soltar bolinhas de baba de quiabo nas ruas da cidade. Viajo pelas lembranças do tempo de feliz idade. Eu menino nas ruas de pedras a fazer bolinhas de sabão mesmo, com uma latinha de massa tomate com agua e restos de pedaços sabão em barra, usando talo da folha do pé de mamão para sopra-las, em disputa com os meninos da rua, para ver quem fazia a maior bola, que se coloria lindamente sob os efeitos dos raios solares. A gente era criativa, feliz na simplicidade de criar os próprios brinquedos e inventar sonhos.
Volto os olhos para este homem na cadeira de rodas a vender seu produto que solta bolinhas, um brinquedo de plástico. Fico a pensar se sua alegria dura como o plástico na natureza, quando ele cansado retorna ao seu pobre lar, onde a prole o espera com olhos ansiosos pelo pão da ceia noturna. Pens0 sobre a vida destes pobres seres ambulantes espalhados pelas grandes cidades, e penso na Copa 2014 e na grana a desfilar pelos tapetes vermelhos dos palácios. E decido comprar.
Meu senhor quanto custa sua felicidade?
Oh, desculpe quanto custa o brinquedo?
Toninho.
27/01/2014
Inspirada numa foto de um cadeirante vendedor de brinquedo que solta bolinhas tipo a de sabão em uma pagina de uma amiga no Facebook