O fim de uma jornada
Ontem, eu terminei de transcrever um manuscrito que passei anos escrevendo e hoje, ao ver que não teria que passar a limpo no computador, eu fiquei me sentindo estranhamente vazia. O que houve? Meus personagens haviam, finalmente, se libertado de mim e deixado de ser meus, mas eu não consegui me libertar deles e, agora, estou sem saber o que fazer. Talvez esta seja a sensação de muitos pais quando seus filhos crescem e vão morar em seus próprios lares e constituir famílias. É como se perdêssemos um pedaço importante de nossas almas. Não sei se todo escritor passa por isso, mas é o que estou passando agora e está me torturando tanto que quis dividir com alguém, a fim de refletir sobre a sensação de vazio que vem após permitirmos que os personagens criem asas e voem.
Ao mesmo tempo, ficamos inseguros e nos perguntamos: será que eles estão prontos? Serão capazes de caminhar por si mesmos? Ao começar a escrevê-los, eu não sabia como seria longa a minha jornada, na qual eu acompanharia as lutas, alegrias e tristezas dos meus personagens. Agora, devo deixá-los partir. E tenho medo. Como o mundo os receberá? Um romance não é como um conto, que você leva pouco tempo para criar. Alguns escritores passam anos compondo personagens, tecendo as tramas em que eles se enredam e sofrendo com eles suas dores. A separação é dura. Mas necessária. Que farei agora? Não sei. A jornada deles terminou, mas eu ainda estou aqui e preciso continuar caminhando. E é o que resta a todos nós fazer.