O JARDINEIRO FELIZ

Faz mais de uma década que ele cuida do jardim de minha casa.
Durante esse tempo todo, nunca o vi triste. Pensativo, sim, algumas vezes.
Cesar, aos olhos do mundo não teria muitos motivos para cultivar a serenidade e  por conseguinte a felicidade.
Cuida dos quintais e jardins de casas imensas, enquanto que ele vive em um bairro da periferia, e sua casa tem apenas três cômodos. 
Seu segundo filho vive em uma cama, teve paralisia cerebral, logo ao nascer.
Trabalha no cultivo da terra desde os sete anos de idade, ficou orfão de mãe, com apenas oito anos, e passou muita fome no interior da Bahia, onde nasceu.
Cesar vem reafirmar, a minha convicção, de que felicidade nada tem com o exterior, mas sim, com o nosso interior.
Cesar adora cuidar de jardins e quintais, trabalha o dia todo cantarolando os hinos de seu igreja. Sua gentileza e educação é algo inato, creio eu.

A semana que passou, resolvi fazer uma pequena reforma em meu jardim e quintal. 
Cesar, e seu ajudante, ficaram por cinco dias, cuidando das mudanças. Debaixo de um sol muito quente, e um trabalho braçal pesado e cansativo, o jardineiro, que ama o que faz, parece que não se cansa, é comum vê-lo, pedir licença  para as folhas velhas das palmeiras, antes de retirá-las, ou ao podar os buxinhos, escutá-lo dizer à eles: "sei que vocês, estão com medo dessa enorme tesoura, mas não vai doer tanto, e depois voces vão ficar redondinhos, e muito mais bonitos".

Ao final do quinto dia, o jardim parecia outro, e o quintal então,  com a colocação dos seixos, ganhou um contraste bonito entre o verde das plantas e o marron das pedras de rio.
Quando fui lhe entregar o pagamento pelo seu trabalho, esse mês bem maior, por ter trabalhado por mais dias, eu disse em tom de brincadeira a ele: Cesar, você está ficando rico fazendo jardins.
Abrindo um sorriso largo, que lhe é marca registrada, ele me disse: "Eu sou muito feliz, a vida me deu muito, e sou grato a Deus por tudo, principalmente por cuidar da natureza que Ele criou".
Agradeceu-me pelo pagamento, deixou marcado, como de hábito sua volta para daqui um mês, e se foi, assobiando suas músicas.
Eu fiquei pensando que ele, nem desconfia o quanto aprendo com sua sabedoria de vida.


(Imagem; Lenapena)

 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 03/03/2014
Reeditado em 03/03/2014
Código do texto: T4713238
Classificação de conteúdo: seguro