O METÓDICO

Marcelo era o típico metódico. Em tudo ele calculava, media, analisava. Analisava tanto que chegava a enjoar.

Um belo dia, no auge dos seus 40 anos mal vividos, percebendo que estava só, ele decidiu arrumar um amor para esquentar o coração. Porém, como todo bom chato que se preze, Marcelo não se satisfazia fácil. Pensava muito, enrolava demais, nunca se decidia e por fim, na dúvida, sempre dispensava. Mulheres lindas, promissoras, inteligentes, independentes. Nenhuma satisfazia o ego ferido de Marcelo. Nenhuma lhe preenchia. Sempre arrumava um defeito para responder ao fato de nunca ter ninguém. Ou era magra demais, ou independente de menos, ou falava pouco, ou muito. Ou não era seu tipo, ou era seu tipo demais. Na verdade, ele nunca queria realmente ninguém.

Certo dia conheceu Lídia, em uma biblioteca da cidade. Ela conhecia tudo o que ele conhecia. Sabia de tudo o que convinha. Entendia seus desejos e era o seu desejo naquele momento. Era uma moça linda, perfeita. Como pudera estar ali aquele tempo todo e ele não ter encontrado-a antes? Marcelo parecia encantado por ela. E ela também por ele. Mas ele nunca dizia isso abertamente para a moça. Nunca se declarava de corpo e alma. Nunca saia da dúvida. Do seu campo de conforto. Sua zona morta! Nunca fazia nada! Lidia era linda, de cabelos soltos largados ao vento. Estava gostando de Marcelo, mas se sentia vazia. Só em uma ópera de dois personagens. Um dos personagens era frouxo demais para cortejá-la. Então, um belo dia, Lídia se cansou. Parou de atender telefonemas, não ia mais para a biblioteca nos mesmos horários de Marcelo. Na verdade não ia mais horário nenhum. Saiu do campo do talvez ao conhecer Tarcísio Preciso. Um homem que sabia o que queria e quis tanto o amor de Lídia que em um belo dia de Sol, casou-se com ela.

Marcelo?

...

Ficou sozinho como sempre. Noivo concreto da solidão.

No canto da sala de estar de sua casa sombria há um caixote pequeno, com memórias antigas. De lá ele retira umas fotos borradas de um noivado desfeito. Era Cida, a dama de seu sofrimento. A única mulher que ele um dia se doou. E que por maldade do destino, não quis ele complementar o vazio deixado pelo adeus de Cida, ao recorrer aos braços de outro rapaz. Menos metódico e mais audaz.

Lais L S
Enviado por Lais L S em 02/03/2014
Código do texto: T4712437
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