TENHA PIEDADE, MENINA!
 
Indiscutivelmente, o universo feminino é completamente diferente do universo masculino. E não adianta dizer isso ou aquilo, que o homem pensa com a razão, a mulher com a emoção; que o homem age movido pela força, arrogância e/ou pela dominação; e a mulher age pela sensibilidade, intuição e/ou pela inteligência. Não é tão simples assim.

Verdade. E esse universo tão distinto, tão estranho para nós do universo masculino, que nos faz perder horas e horas de sono para tentarmos entendê-lo (e nunca conseguimos e, acredito, nunca conseguiremos), é perfeitamente explicável através dos bardos e suas maravilhosas interpretações poéticas: mulher não é para se entender, mas para se amar... Ou então: a mulher é um anjo que Deus mandou para cuidar de todos nós. E assim por diante...

Concordo. A mulher, de fato, é um anjo maravilhoso que dá sentido ao nosso universo, adicionando tudo aquilo que é perfeitamente descartável e supérfluo para nós homens, equilibrando assim, o nosso dia a dia, com amor, afeto, carinho e compreensão.

Mas, tem uma coisa que, se já é difícil para nós homens entendermos – sobre o universo feminino –, quando se trata desse pequeno pormenor, que vem atrelado ao "Anjo de Deus" – mandado para cuidar de nós –, aí é que, definitivamente, entendemos menos ainda. Diria que o grau de compreensão sobre o universo feminino é, numa escala de zero a dez, no máximo, dois; porém, quando se trata desse pequeno pormenor, numa mesma escala, o máximo que conseguiremos chegar – se é que chegaremos, é a zero.

E o que é? Um conjunto de sintomas e sinais, que transformam o humor e o comportamento femininos, "minimizados" e definidos por uma sigla de apenas três letras: TPM, que algumas pessoas classificam como Todos Problemas Misturados; Tocou, Perguntou, Morreu; Tendência Para Matar e Tira as Patas, Maldito!; enfim, é um estranho acontecimento com o qual a mulher, mensalmente, é obrigada a conviver e que tende a desaparecer com a chegada da menstruação.

Pense num troço esquisito e difícil de o homem lidar com ele! Primeiro, é preciso detectá-lo, o que é, em alguns casos, humanamente impossível. Segundo, em detectado, como conviver nos cinco dias em que ele se aloja na cara-metade (ou nas mulheres de sua convivência diária)?. Terceiro, em conseguindo conviver, como não sair machucado, arranhado, ferido ou morto neste período de surto psicótico momentâneo da mulher?

Eu falo isso, pois, graças a Deus, de tanto conviver – em casa e no trabalho – com mulheres, eu estou começando a aprender a detectar, nelas (nas que eu convivo, quero deixar claro isso), o início desses estranhos sintomas, que as deixam, em muitos casos, tão sensíveis que até em você olhá-las, elas choram e, pior, se você não olhá-las, elas choram também.

Mas, o caminho para começar a entender que a mulher, nesses dias, pelo simples fato de não encontrar um chiclete diet na bolsa é a certeza de que o mundo está contra ela, leva certo tempo e que, se esse tempo demorar muito, pode ser que você acabe tendo uma depressão ou adquira pressão alta e pode ainda, nos casos mais extremos, desenvolver alguns sintomas depressivos, tipo, sou um fracassado e/ou um insensível desnaturado e incapaz de me relacionar com o sexo oposto.

Exagero? Então vejam: quando casei, todos os meses, quase na mesma data, a minha cônjuge, na hora do almoço, começava a me perguntar quem era a outra, que eu podia dizer o nome que ela não se importaria e que eu não precisava mais esconder dela que eu tinha uma amante. Confesso que, no início (por não entender nada sobre a TPM), eu tentava dialogar, ser carinhoso, generoso, mas via que era pior. Então, um dia um tive uma ideia suicida: se desse certo, eu resolveria o problema; se não, o meu casamento acabaria. Arriscando tudo, esperei a cena mensal. Quando ela veio com a mesma conversa, eu cortei, na hora, com dois gritos, mandando-a ficar calada. Para minha surpresa, ela se levantou da mesa, entrou no banheiro, chorou e, quando voltou, parecia a criatura mais angelical do mundo.

Assim aconteceu também quando eu trabalhava num projeto do MEC e, na sala em que eu trabalhava, eram oito mulheres. Uma delas, na TPM, tinha os mesmos sintomas da minha mulher. Assim como a minha mulher, ela implicava até com a própria sombra, e o principal alvo de ataque era eu. Normalmente, ela rejeitava (e criticava) qualquer opinião minha. Depois de aguentar por vários meses, um dia eu criei coragem e usei a mesma estratégia do meu casamento. Gente, parecia um “vale a pena ver de novo”: choro, banheiro e, na volta, a pessoa mais doce do mundo.

Semana passada, no entanto, esqueci-me desses detalhes (mesmo continuando a trabalhar só com mulheres) e quase que me estrepo. Melhor dizendo: corri um sério risco de morte. Explico de novo: é que trabalho com quatro mulheres. Na semana passada, três delas, coincidentemente, estavam na TPM e uma outra “naqueles dias”. Já imaginaram o risco?!

Só descobri, felizmente, quando olhei para uma delas e vi, na "candura" do seu olhar rígido, uma fagulha de raio laser e nos lábios, quase sem cor, os dentes cerrados, como a me dizer alguma coisa parecida com: se você falar qualquer coisa, eu te estraçalho!

Como não sou besta, levantei-me (sem desviar o olhar dela – e das outras também) e tratei de “dar uma voltinha” de duas horas, com uma carência de mais duas, para ver se, quando voltasse, aquele olhar de Carrie – a Estranha, já tinha ido embora...

Ah! Porque não usei o método infalível de antes? E eu sou doido?! Eram quatro potenciais “Doutores Lecters”* de saias. Segundo Murphy, se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais: dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível... Então?


 

* Doutor Hannibal Lecter é um célebre personagem de ficção elaborada pelo escritor Thomas Harris, que surgiu pela primeira vez no livro Dragão Vermelho (1981). As aventuras de Hannibal continuaram, no entanto, em O Silêncio dos Inocentes (1991) e Dragão Vermelho (2002) e em Hannibal (2007).


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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 02/03/2014
Reeditado em 14/10/2020
Código do texto: T4712365
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