O grande Ayrton Senna.
Esta crônica é sobre um assunto que nem gosto, a saber, a fórmula um. Não gosto de fórmula um, mas sou fã confesso do grande e saudoso piloto Ayrton Senna. Esta grande admiração por Ayrton Senna fazia com que eu fizesse aquilo que não gostava, ou seja, assistir a um grande prêmio de fórmula um. Quase toda semana assistia as corridas só para ver o grande Senna com a bandeira do Brasil na mão, e, igualmente, ouvir aquela música que tocava nas vitórias do Ayrton e que marcou tantos brasileiros.
Caro leitor, estamos a vinte anos daquele acidente trágico na curva Tamburello no grande premio de Imola na Itália em 1994. Um acidente cercado de fatos não explicados e que suscitou muitas teses de conspiração que afirmam que a negligência dos chefões da fórmula um é que foram a causa de Senna ter a vida ceifada. Entretanto, não quero focar e nem dar atenção ao desastre porque quero falar daquilo que Ayrton Senna representava para mim e para milhões de brasileiros.
Estávamos nos anos oitenta, a chamada década perdida na economia, e o Brasil tinha poucos ídolos internacionais, e, principalmente, nenhum ídolo com o carisma de Ayrton Senna. No Brasil sempre houve pessoas que gostam de gritar aos quatro ventos a tal síndrome de cachorro vira latas, a saber, nada que é feito no Brasil ou vem do Brasil presta ou tem valor. Estas pessoas gostam de exaltar o que é feito e o que vem do estrangeiro. Ayrton Senna era a negação desta tese porque era bom, o homem era excelente naquilo que fazia, digo mais, Senna era um signo de excelência na arte de conduzir um carro de fórmula um.
O Brasil já tinha dois campeões de fórmula um, a saber, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet. Emerson, que havia sido bicampeão nos anos setenta, era um sujeito simpático, bem falante, porém, não tinha o carisma de Ayrton Senna. O outro é Nelson Piquet que foi o primeiro brasileiro a tornar-se tricampeão mundial de fórmula um. Piquet não tinha papas na língua e falava o que tivesse vontade e, pelas declarações parece que não tinha simpatia por Ayrton. Neste cenário surge Ayrton Senna que com sua simplicidade e carisma conquistou milhões de brasileiros.
No início de sua carreira de automobilista foi capaz de feitos que começaram a cativar os brasileiros. Por exemplo, quando ainda disputava a fórmula três na Inglaterra Ayrton Senna era chamado de o brasileiro voador, e o tradicional autódromo inglês de nome Silverstone era carinhosamente chamado pelos ingleses de Silvastone. Este trocadilho era uma alusão ao grande numero de vitórias que Ayrton teve naquele autódromo, a saber, nove vitórias em três anos e é preciso falar que muitas vezes chegou em segundo ou em terceiro lugar.
No ano de sua estreia na fórmula um em 1984 teve um desempenho espetacular no Grande Prêmio de Mônaco. Ayrton Senna corria pela Toleman, uma pequena equipe da fórmula um, e havia se classificado em décimo terceiro lugar para a largada. No dia da corrida chovia muito e foi aí então que Senna se revelou o grande piloto a correr em pista molhada. Saiu em décimo terceiro e começou a ultrapassar os concorrentes, alcançando o segundo lugar. Estava mais rápido que Alain Prost e iria ultrapassá-lo, porém, os organizadores da corrida terminaram a mesma. Entretanto, Senna já havia se revelado para o mundo e ali se explicitava uma carreira brilhante que culminou com o tricampeonato mundial de automobilismo. De todos os grandes feitos de Senna, foi o GP de Mônaco que me marcou e não sai da memória. Outro feito fantástico de Senna foi ganhar o GP do Brasil de 1991. Na metade da corrida seu carro apresentou problemas na caixa de câmbio e não engatava a primeira e a segunda marcha, e no final da corrida somente engatava a sexta marcha, ou seja, Senna terminou a corrida sem poder trocar marchas.
Não há unanimidade quanto ao maior feito de Senna na fórmula um e muitos fãs preferem outras corridas, principalmente aquelas em que se tornou campeão. Os leitores que são afeiçoados a corridas de fórmula um, certamente conhecem outros inúmeros feitos de Senna e, certamente o conhecem com mais profundidade e autoridade. Mas em uma coisa todos concordam, a saber, o carisma e simplicidade de Senna conquistaram os brasileiros e o colocaram entre os maiores ídolos do esporte que esta nação já teve. “Para ser honesto, não me sinto o maior ídolo brasileiro, não me sinto uma pessoa tão importante assim para merecer uma festa durante uma noite toda no Brasil”. Ayrton Senna. Esta fala ele proferiu ao sagrar-se tricampeão mundial e revela a simplicidade de Ayrton, que se não é o maior ídolo brasileiro, certamente está entre os maiores. Ayrton era muito querido pelos brasileiros e este fato pode ser comprovado nas 240.000 pessoas que estiveram em seu velório e no número de um milhão de pessoas que acompanharam o seu cortejo fúnebre. Ayrton deixou um grande legado, e principalmente deixou muitas saudades em milhões de brasileiros que são seus admiradores confessos.