GÊNESE DA ALMA - Retrato da natureza

Mais a oeste da colina dos meus pensamentos figura um vulcão.

Quando entra em atividade, e atinge o ápice de toda agitação, inunda a linha imaginária da paisagem, que fica mais ao norte do meu inconsciente.

Suas lavas incandescentes percorrem, como um “riacho” caudaloso, toda a planície, dos verdes campos da minha consciência, abrindo caminho para novos ambientes, na pintura enigmática das tardes floridas, de filosóficos miosótis, e girassóis que colorem e perfumam uma “arte” que ainda resiste em mim.

Seu trajeto é paralelo à minha individualidade, precipita-se, não invade, caminha, não devasta, é parte do que sou; apenas responde à agressão sofrida, num eco de solidão, num pedido de socorro, ao mesmo tempo de perdão.

Por mais violentos que sejam os magmas expelidos, eles obedecem a um comando inteligente, formando um divisor de “chamas”, que separa tudo o que não pode ser esquecido, do que deve ser revolvido.

Essa energia que vem do centro da minha alma irrompe, toda vez que me aproximo do centro, do universo particular da minha milenar existência, e posso sentir o descompasso entre os seres da criação.

Lá, no centro, a pressão e as temperaturas são altas, e depois de algum tempo repousando, surgem intempestivas, em plena combustão da matéria latente, há tempos adormecida, à espera do aval de uma Inteligência Superior, que sabe o momento certo da renovação da folhagem e da formação de novos ramos, pelos novos ventos que as trazem.

Há um misto de confusão na escolha das cores que darão vida a esse novo retrato genesíaco... Sinto-me sufocada, pois os novos ventos só me trazem ares rarefeitos, de gases tóxicos, de pensamentos viciosos e atitudes poluentes, irascíveis, incongruentes.

Enquanto as ondas do mar de fogo percorrem o caminho, que fica mais ao sul do meu subconsciente, pontos de interrogação surgem no horizonte das reflexões, ecoando num barulho explosivo, ensurdecedor:

"Como renascer das cinzas? Como florescer em meio às chamas? Onde o azul do firmamento?" "Como me reinventar a cada novo golpe sofrido, vindo dos meus próprios pares?"

Esse estado de coisas pode durar uma eternidade, ou cessar em um átimo de segundos, mas basta fechar os olhos para ver a "calmaria e a bonança", após a tempestade de fogo.

Lá, cada coisa em seu indevido lugar, aguardando passivamente o fim da criação.

O mundo que não desenhei, as flores mortas que não plantei, as florestas secas que não devastei, os animais que do seu habitat não expulsei, um rio de sonhos agonizantes, que boiam na superfície, que não oxigenei.

Cris Sozza
Enviado por Cris Sozza em 01/03/2014
Reeditado em 30/09/2016
Código do texto: T4711724
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