Carnaval Antigo
Era uma vitrola antiga. Vitrola, não. Não chegava a tanto. Era uma “radiola” montada pelo meu pai que por ser laborioso fizera o curso por correspondência de eletricista. A prova constava da montagem daquele aparelho.
Fora aprovado e como prêmio ali estava a “radiola” para ouvir “LPs” de várias rotações. Os discos eram pesadíssimos e requeriam cuidados. Qualquer descuido ou arranhavam ou quebravam.
E foi assim que cresci vendo e ouvindo aquela geringonça alegrar as noites com os boleros, tangos e canções portuguesas.
Havia os discos de carnaval. Vários. Mas meu pai colecionava os de uma banda: “Lyra de Xopotó”.
Eu não tinha consciência de entender aquelas canções. Sabia que o carnaval chegara porque dias antes os dicos começavam a rodopiar no prato da “radiola”. E eu ouvia os comentários de meu pai e minha mãe:
-Está marchinha de carnaval é mesmo supimpa!
-Veja como Dalva de Oliveira canta com a alma!
Os discos mais antigos na verdade eram só chiados de alguma orquestra e as faixas eram continuas produzindo notas e ruídos por minutos seguidos até a agulha percorrer toda a face – lado A e lado B – do disco.
Além das músicas “chiadas”, o que me encantava eram as capas dos discos com suas fotos. Duas estão guardadas em minha memória.
Uma era de um Pierrô com sua Colombina e a outra capa de outro disco eram dois homens fantasiados de Domésticas de Luxo com suas argolas, colares , perucas coloridas e vestidos de cetim listrados.
Quando chega o carnaval estes personagens estampados naquelas capas de discos me tomam pela mão para brincarmos aqueles carnavais antigos com meus pais matando a saudade daqueles tempos e nos divertindo ao som da Lyra de Xopotó na sala de estar de nossa antiga sala.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 28/02/2014.