PROSA COM PESSOA
Ei, Pessoa!
Sabe, amigo, hoje reparei nos teus versos e balancei a cabeça, tristemente, quase envergonhada. Eu queria ser tua colega. Olha, que legal seria:
- Amigos, esse aqui, o Pessoa, é meu colega. Ele é escritor!
Mas, de meus lábios e lápices, atualmente, só saem lamúrias. Dos meus olhos lágrimas e de meu coração descontentamento.
O encanto é puro desencanto. E o espanto, então? É uma névoa escura que me segue e domina!
Eu sei, amigo, que tudo está por aí. Basta olhar! Contudo, eu não consigo. Meu coração está cego. Já não vejo a poesia!
O tempo cura tudo, dizem. Mas, é o tempo que corre feito rio. O meu tempo anda parado feito lago, se entupindo de musgos e de sujeiras despejadas sobre. Adoeço. Apodreço. Sei que água parada faz mal...
Pessoa, querido, o tempo te trouxe até mim e o tempo, esse, nunca passa para tua poesia! Que versos profundos! Ai, que saudade de caminhar contigo!
Sabe, amigo, eu já andei na mesma estrada que tu e já vi tudo como tu viste. Convivi longos anos com o espanto. Creio, até, que a minha vida inteira. Entretanto, hoje, minha estrada está um desastre, mal consigo andar e tenho receio de olhar para trás!
E, eu que pensei que minha estrada seria, sempre, encantada!