Que marcas são estas atrás dos azulejos?

Para arrancar mais informação aos treze fragmentos encontrados na vizinhança ou nas terras do antigo Mosteiro de Jesus da Ribeira Grande, removemos a argamassa da parte não vidrada (tardoz) de cada um deles. Vimos o aspecto do barro e marcas. O aspecto do barro, leva-nos a admitir que é proveniente da região de Lisboa. E vimos que, em dez dos treze, existe algum tipo de marca. As marcas têm duas origens: as olarias de Lisboa e o campo arqueológico na Ribeira Grande.

As marcas da olaria (número ou outro símbolo, letra e número), eram feitas por duas razões: para organizar a produção de azulejos nas oficinas e orientar a sua colocação no destino. Trabalho menor mas imprescindível, os mestres responsáveis das olarias de azulejo da calçada do Combro (São Bento e arredores), encarregavam os aprendizes de as pintar. Deviam ser pintadas de maneira clara e irreversível.

Os fragmentos do painel que agora se estuda, apresentam, encimando outros dois símbolos alfa numéricos (letra e algarismo), o algarismo 2. Há indícios, inconclusivos, do uso dos números 3 e 4. Estes símbolos numéricos, 2, 3 ou 4, indicavam ao mestre que os iria colocar no seu destino, a que painel pertencia aquele preciso azulejo.

Podemos pressupor a existência de um número 1 e ainda admitir a existência dos números 5, 6 e aí por diante. O coro-baixo do Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada, tem doze painéis. E propor uma leitura bastante arriscada: que aqueles números, tal como na Esperança, contariam, de um modo sequencial e padronizado, uma história: a vida e a obra de Maria e seu filho Jesus. Ou outra. Exemplo ainda da Esperança. Uma outra leitura: que a sequência não pressupunha a obrigatoriedade da sua colocação na mesma superfície parietal. Ainda o exemplo do mosteiro da Esperança. Na Esperança, estão cinco painéis de um lado e sete do outro.

As marcas de registo arqueológico. Estas marcas de registo arqueológico, devem ser reversíveis e colocadas em parte do azulejo que não perturbe a leitura das marcas feitas primitivamente na olaria. Se escavar é destruir, então, é forçoso registar o que se destrói: o sítio exacto onde encontrámos cada fragmento. No caso, MJ - (JG) - 98, quer dizer: (MJ) talvez do Mosteiro de Jesus; (JG) casa de José Gaipo, onde os recolhemos, e 98, o ano em os recolhemos.

As marcas serviram, pois, para informar os mestres como e onde deveriam colocar cada azulejo e servem para informar o local onde cada fragmento foi encontrado no campo arqueológico. O barro a origem da peça. Além disso, podem dizer-nos acerca do número de azulejos, da altura e do comprimento dos painéis, até do tipo de painéis. É isso que queremos ver no próximo Perfil.

(continua)

Mário Moura

PS: Olhe-se para a Holanda já que não se quer olhar para a Índia.

O mundo dos cacos de outrora, não nos cega para o de agora: oiço os lavradores queixarem-se de minguados rendimentos, oiço igualmente os industriais queixarem-se de reduzidos lucros, no entanto, que me lembre nunca ouvi da lavoura ou das fábricas um leve suspiro sobre as miseráveis condições de vida de quem a produz: os animais. Ficar ao relento em vez de ficar em estábulos, não será ingratidão? Somos mais gratos para com os nossos animais domésticos: Cão e gato. Que sem nos darem riquezas materiais, nos dão a maior de todas as riquezas: alegria. Faço um apelo a quem de direito, que faça outro tanto por estas infelizes criaturas de Deus.

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 28/02/2014
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