A Morte é A mulher que Eu Queria levar Para Cama

Cansado de relacionamentos desastrosos passei a viver de fodas esporádicas .As coisas passaram a acontecer naturalmente , nada de perspectivas e labuta por um namoro que de certo acabaria com meu ano . O pessoal do jornal então passou a empurrar garotas , jovens estagiarias com sonho de trabalhar no jornal das oito ao lado de um homem grisalho de dentes brancos e axilas depiladas . Só para mostrar que não precisava da ajuda dos sacanas para acabar com meu dia ou arranjar um par de coxas eu as dispensava . Por vezes arranjava um jantar a luz de velas num restaurante italiano . Bebia vinho , dava risadas , comia espaguete e ia ao banheiro . Dai dava uma boa cagada , limpava bem a bunda e dava o fora sem que a mulher percebesse , depois dava a volta no quarteirão fumando um cigarro e estacionava em outro lugar . Sempre carregava meia duzia de latas de cerveja comigo e as bebia quente mesmo esperando pela jovem . As vezes esperavam uma hora , outras saiam e davam uma olhada acompanhadas de um garçom para ver se o carro ainda estava no lugar . Com a lua enorme e as folhas secas correndo pelo asfalto negro elas tentavam argumentar , tentavam barganhar a conta – que nunca foi baixa – mas não tinha jeito ; tinham de pagar . No dia seguinte no trabalho elas não faziam nada , não queriam chamar a atenção , não queriam que ninguém soubesse do ''cavalo doido '' que tomaram e nunca mais me dirigiam a palavra . E se alguém aparecesse querendo saber como foi a minha noite eu os mandava foder a mão no tanque . O bar La Chica del Diablo era o point dos fodidos . A corja de desiludidos e fodedores de putas aparecia por lá para beber até deixar a própria sombra tão maluca que ela tropeçava e te levava junto . Era um lugar feio , fedia a cerveja choca , as luzes penduradas por fios balançavam no teto úmido. O dono da birosca era do tipo peludo e camisa regata . Ele fedia mais que o próprio bar , mas vendia o melhor vinho da cidade , produzido e engarrafado por si próprio e só ti . Imaginava aqueles pés macerando as uvas e o caldo de suas frieiras se juntando ao suco do Deus Baco . Na verdade não me importava em pensar nisso depois de tomar um canecão da vinho , elE fazia tudo parecer bastante planejado .

Podíamos dizer que se tratava de um clube seleto. Para entrar tinha de ser roto e mal caráter . E não faltavam candidatos , já que vez por outra aparecia um rosto diferente , cabisbaixo e olheiras de quem não dorme a dias .Mas isso não bastava , era preciso ser aceito no bando de leões mancos e carecas . Se alguém no bar visse que você tinha o mínimo de dignidade era chutado para fora aos ponta pés . Ninguém queria olhar para o lado e ver uma aberração com um largo sorriso de quem teve uma noite feliz de sono ao lado da mulher loura toda formosa depois de botar o casal de filhos brancos e limpos na cama . Mas quando Vitor apareceu logo saquei que se tratava de um infeliz que se não fosse covarde o suficiente já teria metido uma bala na cabeça . Um tipo amigo meu sempre dizia que para ser bicha tem é que ser muito macho , acho que isso também serve para os suicidas .

- O que vai ser , amigo ?

Disse o dono peludo do bar atrás do balcão .

- Uma dose dupla de Tequila .

Disse o tal . Quando a dose veio ela logo foi aniquilada , dai o cara pediu outra e mais outra .

- Eu pago a próxima .

Falei .

- Obrigado .

- Parece que teve um dia ruim .

- Um dos piores .

- Isso vive me acontecendo .

Dei um trago no meu rum , acendi um cigarro e olhei o cara descendo outra tequila . Dai ele falou .

- Minha mulher morreu hoje .

- Tudo bem , escuta , não deixe ninguém ouvir você falar isso .

- Porque ?

- Vai se tornar popular aqui . Noventa por cento dessa corja queria ver sua mulher morta mas dependem dela para tudo . Nem conseguem se vestir para o trabalho sozinhos , uma merda .

Bebemos em silencio por alguns minutos . Nesse tempo fiquei bêbado , muito bêbado e em algum momento nisso tudo o cara me disse que se chamava Vitor .

- Prazer , Oliver …

Falei . Uma briga começou a rolar na mesa de sinuca , ouve berros e ameaças , uma das lampadas penduradas foi alvejada – um tiro ? - dai todo mundo caiu no chão cobrindo a cabeça . O macaco peludo dono do bar sacou seu pau de amansar louco que guardava atrás da geladeira e mandou todo mundo se sentar e beber , caso contrario enfiaria o bastão no rabo de todo mundo ali .

- Mas que merda – disse Vitor – acho que vou para casa .

- Tem certeza ?

As palavras simplesmente escorregavam de sua boca e caiam nos meus ouvidos como vodka russa barata .

- Tenho sim . To precisando dar uma trepada .

Falou , jogando um punhado de notas amassadas na mesa .

O dono nem se deu ao trabalho de contar , enfiou tudo na velha caixa registradora e serviu um drink de cortesia de cor escura como café preto passado em meia velha . Vitor matou o copo , se levantou , deu um arroto e apertou minha mão .

- Te vejo por ai .

- Quem sabe ?

- Vou dar uma trepada .

- Sorte sua . Mas só tente não se apaixonar pela mulher . Faça o serviço e vá embora .

- Pensamento estranho o seu .

- Apenas cautela .

- Mas já estou apaixonado .

- Elas , as mulheres , são um perigo , um veneno .

- Ela esta deitada no sofá de casa , me esperando num roupão de banho e pernas abertas .

- Legal .

- Quer saber de uma coisa , por que não vem junto comigo e também da uma trepada .

- Com sua garota ?

- Ela não é minha garota , é minha mulher .

Aceitei a proposta . Um ménage á trois , como diriam os franceses . Seguimos para sua casa no meu velho Ford dobrando as esquerdas e as direitas para a seguir e rumar em linha reta até chegarmos num bairro nobre . Grandes casas brancas com jardins verdes com os números pintados no meio fio .

- Pare aqui .

Ordenou . Era uma das melhores , digo , a casa Enorme com pequenos postes iluminando o gramado e quando chegamos a porta luz se fez sobre ela .

- Tem certeza de que ela não vai se importar ?

Perguntei . Nunca se sabe , vai ver o cara estava tão bêbado que pensou que a mulher fosse uma puta , a confundindo com uma de suas antigas namoradas , vai saber ...Vitor teve trabalho para abrir a porta , nenhuma de suas chaves encaixava , comecei a ter duvidas se aquela seria mesmo sua casa .

- Tem certeza que mora aqui , Vitor ? Sabe , essas coisas acontecem . Uma vez acordei no banheiro de uma rodoviária debaixo das pias .

- Claro que tenho , é a casa de Sofia , minha querida esposa. Sabe , ela trabalha com fotografia , uma fotografa famosa e rica .

- Da pra ver que é rica , mas não conheço fotógrafos famosos , talvez porque nunca aparecem nas fotos .

TLOCK .

A porta abriu depois de minutos . Entramos e tudo ali reluzia . Tinha esse piano bem lustrado mais ao fundo e corntinas que desciam do céu . E bem ali , bem no sofá em forma de meia lua estava essa morena de cabelos crespos , uma deusa mexicana de roupão salmão e pernas abertas devidamente posicionada para o coito .

- Jesus , ela esta dormindo ?

- Antes fosse , Oliver . Já não lhe disse que minha mulher havia morrido .

Me aproximei com se chegasse perto de uma onça .

- Deus ! Ela esta morta ?

- Morreu hoje pela manha . Mas não se preocupe , o corpo esta inteiro , sem furos de balas ou rasgões de faca . a coitada era viciada em cocaína . Teve um ataque ou coisa do tipo e morreu .

Vitor correu o roupão de banho pela suas coxas . Uma fina camada branca envelopava sua pele morena mexicana Parecia que tinha sido toda borrifada com pó de arroz .

- Uma belezura , não é !

Dai Vitor abaixou as calças e deitou sobre mulher . Não dava para sentir nenhum fedor .

- Ela esta seca , cara , seca como foder um pedaço de sabão seco .

Meu estomago revirou , tive de me apoiar numa poltrona para não desabar .

- HO . HÁ . ISSO . YEA !

Vomitei atrás da tal poltrona .

- Espera só até sua vez , cara , você vai ver ,vai ser a melhor foda que já teve na sua vida . Quando um dia você sonhou que foderia uma mulher dessas , hein ?

- Vá a merda .

Disse eu . Andei pela casa e encontrei a cozinha . Sobre a mesa apanhei uma garrafa de rum e duas cervejas na geladeira . Me servi tentando ignorar os sons vindo da sala .Aquilo era loucura , talvez um crime . Pensei no que ele faria com o corpo quando começasse a feder , quem sabe pela manha . A cozinha tinha todos os utensílios para se preparar uma boa comida sadia e saborosa . Tudo era de inox , reluzia , sem gordura no teto ou no fogão , uma lavadoura e toalhas sobre a pia sem pratos sujos .A cozinha , quase maior que minha casa .

- Hey ! Oliver …

Gritou Vitor da sala .

- Oliver , você esta ai ? Na cozinha ?

Fiquei em silencio .

- OLIVER ! Preciso de uma mão aqui ….

- O que foi , porra !

Gritei em resposta .

- Tem um martelo de amaciar carne ai no armário , na gaveta do meio . Traz ele aqui para mim . Sabe , ela morreu pela manha e já tá ficando dura como pedra . Quero bota la de quatro , mas tá tudo travado . Acho que preciso quebrar alguns ossos aqui ….

Peguei a garrafa de rum e dei uma longa talagada . A bebida queimou no estomago , desceu como ferro quente pela garganta . Quando a bebida assentou vomitei sobre a mesa , sobre a fruteira , sobre as bebidas .

Merda , não estava sonhando .

28/02/2014

08h23m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 28/02/2014
Código do texto: T4709610
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