A ode de um sonhador

Comecei a viver por insistência de minha mãe, e nos primeiros passos que dei na vida eu me apaixonei por ela. Logo de cara fui pra uma escola de bruxaria. Varinhas, poções, feitiços, tudo o que um garoto de 11 anos poderia sonhar, e como eu sonhava... Ou melhor, como eu vivia... Era indescritível a sensação de conhecer o novo. Era irreal e ao mesmo tempo tão palpável. Ir onde nunca se foi e voltar de onde parece que sempre se esteve. A emoção: brutal e inebriante. Ali eu descobria uma nova vida. Uma vida feita de uma mistura entre papel e magia que me viciava.

E após essa, vieram outras vidas. E cada nova vida era um amigo que eu ganhava. Não como um amigo de infância ou mesmo de carne e osso. E sim como um amigo de alma, de coração, um amigo espiritual, que estará sempre lá para que com ele eu possa: Rir, chorar, cantar, lutar e qualquer outro verbo conjugar.

Com esses amigos eu conheci “O Nome do Vento” ao desvendar o “Enigma do Príncipe”. Lutei “n’A Guerra dos Tronos” empunhando a “Excalibur”. “Treinei um Dragão” como “Aprendiz de Feiticeiro”. Viajei pelas “Entrelinhas do Horizonte” tal qual um “Mochileiro das Galáxias”. Cantei o grito dos “Miseráveis”, cacei acompanhado do “Lobo das Planícies”, Morri e Morri com “Quincas Berro D’agua”, Roubei e briguei ao lado dos “Capitães da Areia”, Enfrentei monstros numa “Odisséia” e apostei a sorte em um “Jogo do Anjo”.

Há quem me diga que tudo isso é pura ilusão. Será? Pouco me importa. Acho muito tênue e inconstante a linha que separa a realidade da ilusão, e assim como a ilusão em demasia pode levar a loucura, a realidade exarcebada converte-se em prisão. Não sei aos outros, mas a mim parece mais interessante um toque de loucura às barras de uma cela.

Para defender minha “loucura”, vou lhes contar o segredo que torna essas vidas tão especiais. Nessas vidas: O sangue é sempre negro, o corpo é sempre alvo, as faces são parecidas, mas o destino é diferente para cada um que nelas se aventuram. Todos seguem o mesmo roteiro, caminham pelas mesmas estradas e na mesma direção, e apesar disso ninguém chega ao mesmo lugar, porque, como eu descobri ao olhar na “Sombra do Vento” as vidas são espelhos e nelas só se vê o que possuímos por dentro.

E a cada olhar no espelho eu via brotar algo novo dentro de mim, eram lições que eu tinha aprendido nessas vidas. Me basta fechar os olhos para poder lembrar as inúmeras aventuras que me renderam esses ensinamentos, preciso apenas abri-los para vivê-las novamente. E de pensar que ainda existem tantas vidas que eu talvez nunca chegue a viver, e o pior, tantas pessoas que vivem apenas uma.

Pedro Nabuco