CARNAVAL: Um estado de espírito.
Quando chega nesta época do ano as pessoas ficam meios descompromissadas com a realidade das coisas. É o clima de carnaval que se apossa de muitas pessoas como se fosse um vício de época. Não interessa se a conta bancária está restrita. Depois a gente dá um jeito! Assim, o carnaval é apenas uma ilusão em forma de euforia que depois passa, não porque não se quer continuar em ritmo frenético, mas porque há um limite de tempo.
Eu, por exemplo, já fui adepto dessa festança. Já participei de blocos em clubes, curti muitos acampamentos através de quatro dias de um clima exclusivamente de folia. Fantasias, adereços, sambas, bebida e alegria contagiante. Pra mim passou...Não sei se foi porque fiquei mais velho ou porque meu Estado tem pouca tradição no samba. O fato é que me desmotivei para apreciar o tal de “Rei Momo”.
Minha preferência hoje é curtir locais mais calmos. Acampamentos sem muita reverência para o aspecto colorido e fantasioso da época. Prefiro o contato com a natureza na companhia de pessoas amigas. Ou então, se não surgir nenhuma oportunidade nesse sentido ficar em casa curtindo a família, fazendo um churrasquinho e bebendo uma cervejinha. Isso já me basta. Carnaval só na TV apreciando os desfiles, mas sem a intenção de ‘varar a noite’. Quando dá sono não costumo ficar teimando com os olhos para esperar esta ou aquela Escola de Samba sair no Sambódromo.
Caso seja pertinente, até uma pescaria se traduz numa oportunidade melhor para curtir os dias de feriados. Entretanto, essa opção só se apresenta compatível se as chuvas não estejam tão persistentes como neste momento atual. As estradas ficam barrentas e perigosas. Os rios enchem e os peixes somem.
Assim, não há dúvida que carnaval se traduz em estado de espírito. Cada pessoa se sente motivada para curti-lo de acordo com a sua preferência de momento.
Admiro aqueles carnavalescos e também o contingente de pessoas que se preparam o ano inteiro para desfilar uma única noite. Eles ficam motivados para isso e certamente que no momento do desfile as pessoas ficam meio aturdida pela adrenalina de realizar esse sonho. Essa emoção deve transbordar quando a escola alcança o sucesso esperado no Sambódromo. Isso para mim é cultura. Folclore e tradição de um povo. Assim, a curtição daquele desfile a meu ver se transforma em uma divisa de patriotismo, porque as pessoas transformam o país em elementos de ficção e realismo, ao escolherem os temas para apresentar no desfile.
Entretanto, confesso que não tenho qualquer pretensão de permanecer uma noite inteira sentado em uma arquibancada para assistir esse espetáculo. Não está no meu sangue esse tipo de alegria. Não tenho estado de espírito para me envolver emocionalmente com essa tradição. Acho que estou ficando velho ranzinza e por consequência comecei a ter temor ao populismo ou a reunião de muitas pessoas. Nem por isso deixo de ter sensibilidade para aplaudir o empenho e a dedicação das pessoas que curtem essa rotina anual.
O interessante deste nosso glorioso Brasil são as alternâncias de momentos em termos de atividades anuais. Dizem alguns que no Brasil a sua desenvoltura ativa (em termos de trabalho) só ocorre depois do carnaval. Pior este ano, quando ainda teremos Copa do Mundo e depois eleições. Dois mil e catorze será um ano atípico em termos de desenvolvimento. Passaremos o ano esperando grandes eventos e por certo nossas atividades laborais serão executadas em escalas lenientes que se traduzirão em um freio na produção nacional.
Em todo caso, cada um de nós deve aproveitar o máximo. Os políticos certamente já acomodaram suas agendas (quanto aos planejamentos de gestão) num letreiro obscuro que não desperte açodamento nos interesses do eleitor. As festanças são amortecedores das impetuosidades da sociedade. Já o povo (em geral) não sei bem o que têm reservado para tantas datas festivas. Culturalmente as pessoas tendem a se levar pelo embalo do bonde. Restará só aquele contingente de população esclarecida que têm repudiado os investimentos na Copa do Mundo em detrimento das estruturas logísticas que atendem a camada pobre da sociedade. Estes sim estarão fazendo outro tipo de carnaval e curtindo outro tipo de Copa do Mundo. Estarão nas ruas mostrando o desagrado. Isso também é um estado de espírito. Ou seja, demonstração de repúdio àquilo que não condiz com a nossa sociedade, dotada de mecanismos contraditórios, onde de um lado há exposição e disposição de verbas e, de outro, falta de vontade política de dar melhores condições de sobrevivência ao seu povo.
Bom carnaval a todos...