SENHORA ALEGRIA
Ysolda Cabral
Eis que chega o carnaval e eu na maior ''deprê'', não sei por quê. Nem para o Bloco, ''artístico, etílico, filosófico, anárquico e carnavalesco - AMOCREA'', que sai amanhã pelas ruas do lindo Bairro do Espinheiro, está me animando este ano. Ah, estou tão ''assim... assim!'' E foi com esse espírito e quase me arrastando de tanto desânimo que resolvi deixar o carro em casa e ir de ônibus para o trabalho. Parece que essas minhas decisões, ou repentes, sempre acontecem com um propósito definido.
De repente, o ônibus, já bastante lotado, pára e uma senhora se junta a nós. Bonita, elegante, bem vestida, discretamente maquiada, e sob um chapéu praieiro enorme, parecendo mais um sombreiro mexicano, com exagero e tudo, foi entrando e gritando alegremente: '' Ui, ui, ui! O Galo da Madrugada está chegando! Quem vai? Quem vai?''
Todo mundo calado e meio estupefato com o improviso. Se ela estivesse mal vestida, certamente achariam que era louca - pensei cá com meus botões... Louca nada! Ela estava era brincando o seu próprio carnaval! Compreendi.
- Ui,ui,ui! Vai ser bom demais! Ô motorista, você é corno?
- Não que eu saiba minha senhora! - respondeu o motorista morrendo de dar risada.
- Continue sem saber e seja feliz!
Eu, a essa alturas, lamentava não estar perto dela. Uma pessoa dessa eu precisava conhecer mais de perto, porém a catraca e nossas idades nos separavam. Fiquei atenta para não perder nada de sua contagiante pessoa.
Alguém perguntou:
- A senhora ainda brinca o carnaval?
- Claro! - respondeu a linda senhora; e continuou: - Brinco o tempo todo e não só por que é carnaval. Estou com 78 anos de idade e amo a vida. Já a minha filha... Que decepção! Tem 40 anos e é uma morta viva. Não se anima pra nada! Meu marido era assim. Mas, já morreu! Que Deus o tenha.''
- Ui,ui,ui ... Vou frevar muito este ano! Ô motorista! Você sabe por que a Terra é virgem?
- Não senhora! - respondeu sorridente o nosso condutor.
Infelizmente não escutei a resposta. Os passageiros riam alto! A bem da verdade, a alegria tomou conta de todos nós, principalmente de mim que já pensava se, ao chegar ao Crea, ainda encontraria uma camisa do bloco disponível para mim.
A alegre e descontraída senhora começou a cantar antigas cantigas de carnavais e me senti transportada para um tempo em que não havia nem nascido.
Ao descer do ônibus ela deixou sua alegria de presente para nós, e em mim um certo desapontamento por sequer saber seu nome...
Pois não é que já comprei a camisa do bloco!
'' Ui, ui, ui!...” O AMOCREA que me aguarde!!!
Recife-PE
27.02.2014
Em clima carnavalesco