O ESPELHO DE ATHENA
Temos o hábito milenar de construir uma visão panorâmica da vida, apenas do alto da percepção dos nossos sentidos, e assim moldarmos o nosso status quo. O limite ou a área das nossas necessidades e objetivos finais estão demarcados pelo volume/valor das conquistas materiais; unicamente daquilo que a nossa vista está condicionada a enxergar ou do montante de coisas, bens… que o nosso tato pode quantificar; que podemos adquirir e armazenar.
Por outro lado, as nossas crenças e paradigmas nunca foram além do imaginável racionalmente ou cientificamente comprovado; dos costumes e valores morais, religiosos… assimilados ao longo dos nossos relacionamentos; do divulgado e apreendido enquanto “hóspedes” do planeta terra.
Todo esse comportamento se justifica na medida em que historicamente estamos habituados a dar crédito apenas àquilo para o qual apontam os nossos cinco sentidos; ao que estamos treinados e programados a reconhecer como essencial.
É fato que apenas o hemisfério esquerdo do nosso cérebro - responsável pela razão, lógica ou interpretação analítica - tem sido priorizado, notadamente no mundo ocidental, ao passo que a nossa intuição e sentimentos (a inclinação para as artes plásticas, a música e a poesia, por exemplo), mais identificados com o hemisfério direito do cérebro, vêm sendo de certa forma banalizados e até preconceituados.
Daí, vemos o vaga-lume no rabo do burro e nem sequer notamos o próprio animal. Damos demasiada importância às coisas, bens de consumo, atitudes irrelevantes, do ponto de vista do macro e somos míopes para notar o que de fato agrega valor ao nosso crescimento moral e espiritual: a caridade - não necessariamente vinculada a bens materiais, a solidariedade para com o nosso próximo; uma palavra ou um gesto cordial de alguém (mesmo um anônimo transeunte); a intuição ou o insight disparado nas profundezas d’alma; a viagem em busca do nosso auto-conhecimento, numa palavra.
“No espelho de Athena o homem enxerga seu “eu” verdadeiro e não o “eu” que acredita ser. Perseu adquire forças e condições de vencer a si mesmo, as falsas valorizações e as falsas crenças.Suporta a imagem dos seus defeitos representados pela Medusa cruel e ressentida. A intuição brota da morte dos aspectos inferiores da personalidade. A imaginação doentia morre para poder nascer a imaginação criadora.” (*)
(*) Texto extraído de parte de uma Dissertação de Mestrado, da Universidade Federal de Santa Catarina - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.