DA COSTA, O PENTELHO
Da Costa não viveu e não deixou ninguém viver. Passou a vida em busca da condição ideal. Pra viver. Pra fazer isso e aquilo. Da Costa não fez nada (ou quase nada) que lhe desse um pingo de prazer. Da Costa é unanimidade na Vila Invernada. Unanimidade dupla, não lhe bastasse uma – a lhe assegurar a burrice. Ah, Nelson Rodrigues...
No bar do Carneiro, não há quem lhe negue o mérito de ter sido e ser bom pai, marido prestimoso, trabalhador incansável, pagador de contas. Mas também não há ser vivente que não lhe atribua o título devido: pé no saco. Dá Costa é um chato. Sem cura! Da Costa gosta de dar conselhos que ninguém lhe pediu. E de distribuir livros que ninguém quer ler. Da Costa é assim: incansável.
Passa no bar do Carneiro só pra ver quem bebe. Balança a cabeça – e pergunta: “Por que bebem?” Implica com Romualdo Bastos, nosso cruzadista: “Não basta, senhor Bastos, saber quais foram os times e jogadores que ganharam todas as Copas do Mundo. Quem eram os reservas?”
Pra Da Costa, que viu a vida pela janela, nunca ninguém está pronto pra tomar banho de mar, atravessar a rua, fazer sexo... Da Costa busca a condição ideal. E quer seguidores. Todo louco precisa de loucos, multidão de loucos a lhe fazer loas.
Da Costa acabou com o livro de Ananias, nosso repórter em fim de carreira. “Cem páginas, se tanto! Ananias: crie vergonha na cara, homem. Livro que presta tem que ter, no mínimo, no mínimo, quatrocentas páginas” – defecou o autor de nada.
Da Costa tentou engatar prosa com o Velho Marinheiro, não deu certo:
-- Da Costa, sossegue o facho. Quando você se for, espero que não tarde, mando fazer uma placa pra sua campa: “Aqui jaz um pentelho!”
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