Vamos correr?
Um belo dia resolvi mudar. E como na canção de Rita Lee, resolvi fazer tudo o que eu queria fazer. Estava cansada daquela animosidade estática em que meus instantes haviam tornado-se. Exausta daquela mania ordinariamente vulgar de acreditar que o meu limite não era algo a ser ultrapassado, senti que deveria por em teste e arriscar a cumprir alguns dos desejos listados naqueles elencos de "resoluções para o ano novo". Esquecida ali na gaveta estava a listagem com vontades prováveis, improváveis e, até, passageiras. Reli, refiz, redirecionei e escolhi a que sempre mantive como promessa para iniciar a jornada de fuga da malfadada zona de conforto. Depois daquela, algumas outras ousei buscar - conseguindo umas e outras ainda não.
Zona de conforto? Que conforto há na estagnação? Há na verdade uma falsa sensação de segurança, de certeza. Repito o falsa, eis que nada vivido ou entendido como absoluto preceito é real. A relatividade está aí para demonstar isso, trazendo à tona que nem sempre o que soa como bom na verdade o é. As vezes é costume, é medo de tentar, de encarar o desafio e provar da novidade tão melhor que o cogitado. Claro que para tanto se deve estar preparado para a aposta, já que o resultado também pode ser pior ou nulo. Contudo, não há como se esquecer que o progresso está no desafiar-se. Foi isto que eu aprendi numa das minhas metas a serem cumpridas.
Correr sempre foi algo que exerceu atração em mim. A impressão que tinha é que o corredor perdia-se e encontrava-se na própria ação de correr, como se fosse possível estar além do mundo e completamente interligado a ele. Via ali uma espécie de liberdade vitoriosa, e queria aquilo. Só que entre o "querer" e o "poder" havia um obstáculo gigantesco: Eu! Sim, eu não acreditava que possuía a capacidade necessária para tentar, assim, não tentava. Só fui perceber o tamanho da minha tola crença quando encontrei algumas pessoas especiais que enxergaram além daquilo que eu via. Por eles, resolvi dar uma chance a mim mesma.
Na primeira tentativa, nos primeiros passos, nos primeiros metros, só sentia desconforto e uma voz interna mandando todos os meus sentidos pararem. Aos poucos fui criando um foco, percebendo que o desconforto era parte do processo e transformando aquela "platéia" interna de negativa para positiva; Continuei. Terminei como pude, quase sem fôlego, quase sem forças. Mas, terminei. Juro para vocês, a sensação é impagável. Tudo aquilo que pressintia nos corredores, senti por mim. Conheci meus limites, os persegui à margem até modificarem-se. Correr me fez entender que o maior inimigo que eu posso enfrentar está em mim, sou eu. Algo a ser carregado para a vida. Sou grata por esta percepção adquirida. Fez de mim mais solícita para as oportunidades que o universo lança. Já cantou a diva rock brasileira:
"No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou
Agora só falta você!"