Ser hipocondríaco
Já nem se lembra mais qual foi a primeira a dor, a primeira queixa que fez com que procurasse atendimento médico. Talvez tenha sido depois de uma gripe que foi embora mas ainda deixou um incômodo na garganta por um bom tempo. O clínico geral receitou uns xaropes, mas de nada adiantou. Procurou então um otorrino, que examinou, examinou e não descobriu absolutamente nada. Veio a hipótese de um refluxo e por isso correu ao gastro. Pensando melhor, estava mesmo se sentindo meio mal do estômago. Fez todos os exames, do teste de lactose à endoscopia, e nenhum acusou coisa alguma. Por esse tempo começou a achar que a dor não era na garganta, mas do lado de fora. Talvez uma disfunção da mandíbula. Procurou um dentista especializado e fez um tratamento caríssimo. Não sabe se foi isso que melhorou ou ele que esqueceu da dor.
Até porque nessa época ele começou a sentir outro sintoma: tinha vontade de ir ao banheiro a cada meia hora. Foi ao urologista, fez exame de urina, fez ecografia e tudo estava normal. O médico disse que era uma fase do organismo. Esqueceu o problema do xixi, mas não saiu daquela região ali embaixo, porque começou a se sentir desconfortável para sentar, parecia que o cóccix não encaixava direito e ainda coçava bastante. Correu ao proctologista, se submeteu ao exame do toque e estava tudo no lugar. Relaxou por uns dias, até sentir uma dor estranha na perna. Achou que podia ser princípio de trombose e foi ao angiolista, que não diagnosticou nada. Da perna a dor passou para o braço, e ele foi então ao ortopedista, fez ressonância magnética e tudo funcionava perfeitamente. Tudo isso estava lhe tirando o sono, por isso procurou um neurologista que pediu uma bateria de exames, ao fim dos quais não se descobriu nada.
Um dia lhe aventaram a possibilidade de ser hipocondríaco. Primeiro ele negou, mas depois pesquisou a respeito e concluiu que, de fato, tinha todos os sintomas. Angustiado, pegou o telefone e ligou para outro médico.