EXÍLIOS

EXILIOS

Maria Alice Estrella

Descobriu-se silenciosa. Coisa que fugia a normalidade porque o ruídos sempre estavam agregados a sua figura extrovertida. Alguma coisa de diferente estava ocorrendo no lado de dentro. Talvez, um defeito no sistema de sons ou, uma acomodação nas camadas internas.

Quando a alma se exila do corpo e fica silente e fala pouco, anuncia, sem alarde, que está amadurecendo.

De qualquer forma, a sensação de serenidade e de paz era, sem dúvida, alarmante.

Amadurecer é fantástico, mas traz junto uma espécie de medo de ser. De ser perspicaz e de agir com equilíbrio condizente com o percebido.

Crescer é natural. Amadurecer requer anos de prática. Amadurecer é deixar de lado as desnecessárias preocupações e valorizar a inevitável realidade. Adequar-se ao todo, amplo, geral e irrestrito, é característica primordial de quem amadurece.

A idade não importa. O processo se desencadeia independentemente de faixas etárias. Existem milhares de moços velhos e velhos moços.

Amadurecer é tornar-se coerente com o que se é e o que se tem.

E, de repente, o que se tem é o exílio. Uma saída estratégica e necessária para reabastecer energias, assimilar descobertas, repensar a vida.

Assim estava ela. Sentindo-se exilada de si mesma, num lugar distante, vendo-se de longe, observando-se com a ajuda de lentes especiais.

Afastada de suas limitações corpóreas, sua silhueta era mais visível. Capaz de vislumbrar sua própria imagem no distanciamento de si mesma, alcançava o alto da montanha na sua ilha deserta.

Ali, as respostas estavam à espera e, uma a uma, se revelavam com a precisão de um relógio suíço.

O silêncio se justificava. Quando a verdade surge, tudo o mais perde o sentido.

Daqui em diante, as palavras começarão a aparecer vestidas de sabedoria e sairão à rua com passo calmo e temperado.

A causa é desconhecida. Talvez, a subida na montanha do exílio. Quem sabe, a chegada do discernimento e do bom senso.

Readquiriu o direito a cidadania no território de si mesma e reassumiu a posição na estrutura de sua vida.

Ela sabe que o estágio é fértil, assim como o de uma árvore madura que abriga com sua sombra e perfuma com suas flores.

O exílio serviu como adubo e, agora, é só colher os frutos.

Vez ou outra, ela voltará à montanha porque novas verdades podem estar surgindo e é imprescindível conhecê-las.

Pensando bem, exílios são comuns e rotineiros. Às vezes, o que acontece é o desconhecimento do que significam em sua essência.

Ao contrário do exílio da pátria, o exílio de nós próprios é voluntário e muitas vezes, oportuno.