VISITAS

O TRATO

-- Ficamos assim: tarde e noite de domingo são “sagradas”. Então, você não me visita, e eu não vou à sua casa. Certo?

PAPO FROUXO

Há muito não se visitavam.

A afinidade entre eles era, na hipótese mais generosa, nenhuma. Sempre fora assim. Não haveria de mudar com o tempo. Quando se encontravam em festas, a convivência era mais fácil. Muita gente, alguma bebida, nenhum compromisso de falar sobre isso ou aquilo.

Cara a cara, apartados da multidão, a coisa muda – para pior.

Passados os primeiros dez minutos, os dois casais já sabiam que, ao menos no discurso, estava tudo bem com todos, que a doença da tia Maria só fazia piorar etc. O silêncio se impôs, para o constrangimento dos cinco.

Cinco? Cinco. Até o cão não conseguia esconder também seu desconforto.

O marido da dona da casa, sabedor da língua de trapo da prima, resolveu facilitar as coisas:

-- E aí, gente: vamos falar mal de quem?

A noite continuou chata. Mas, apressado, o silêncio saiu pela janela.

CAPACHOS

Para certas visitas, eles deveriam ter dupla face.

Na entrada: “SEJAM BREVES”.

Na saída: “NÃO TENHAM PRESSA DE VOLTAR”.

Mau negócio: todo mundo pensa, ninguém compra.

Orlando Silveira
Enviado por Orlando Silveira em 25/02/2014
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