VISITAS
O TRATO
-- Ficamos assim: tarde e noite de domingo são “sagradas”. Então, você não me visita, e eu não vou à sua casa. Certo?
PAPO FROUXO
Há muito não se visitavam.
A afinidade entre eles era, na hipótese mais generosa, nenhuma. Sempre fora assim. Não haveria de mudar com o tempo. Quando se encontravam em festas, a convivência era mais fácil. Muita gente, alguma bebida, nenhum compromisso de falar sobre isso ou aquilo.
Cara a cara, apartados da multidão, a coisa muda – para pior.
Passados os primeiros dez minutos, os dois casais já sabiam que, ao menos no discurso, estava tudo bem com todos, que a doença da tia Maria só fazia piorar etc. O silêncio se impôs, para o constrangimento dos cinco.
Cinco? Cinco. Até o cão não conseguia esconder também seu desconforto.
O marido da dona da casa, sabedor da língua de trapo da prima, resolveu facilitar as coisas:
-- E aí, gente: vamos falar mal de quem?
A noite continuou chata. Mas, apressado, o silêncio saiu pela janela.
CAPACHOS
Para certas visitas, eles deveriam ter dupla face.
Na entrada: “SEJAM BREVES”.
Na saída: “NÃO TENHAM PRESSA DE VOLTAR”.
Mau negócio: todo mundo pensa, ninguém compra.