LÁGRIMAS NOS OLHOS DE ANTONIO

Aos 77 anos, depois de ter lutado uma vida inteira, Antonio se viu sozinho.

Quando Antonio tinha 45 anos sua esposa faleceu. Ela tinha apenas 43 anos e havia acabado de ter o sétimo filho!Era uma mulher forte, cheia de vida. A filha caçula estava com 14 anos quando ela sentiu um mal estar. Tímida como toda mulher interiorana, ela teve vergonha de se imaginar grávida e não comentou nada com os filhos. Faltou no serviço. Procurou um médico. Contou os sintomas: náuseas, tonturas e muita dor no estomago.

Saiu do consultório com vários papeis para marcação de exames de sangue e de urina.

Foi para casa preocupada. Será que estava com alguma “doença ruim”?Os filhos já estavam criados, não podia ser sintomas de gravidez!Sem contar para ninguém, pois tinha muito medo do que poderia ter, ela fez os exames em segredo. No dia de buscar o resultado, ela acordou cedo, tinha angustia e urgência em saber a resposta do tal exame. Levou o mesmo até o médico, pois a consulta já havia sido marcada com antecedência.

Aguardou sua vez na sala de espera. No momento em que foi chamada, sua voz saiu rouca, baixa. Entregou os exames para o medico e apertou as próprias mãos ansiosas e trêmulas. O medico olhou, sorriu em direção a ela e perguntou:

-Quantos filhos a senhora têm?

-Seis. Tenho seis filhos.

-Bom, agora vem vindo o sétimo filho!Boa sorte e parabéns!

Ela saiu do consultório assustada, feliz, mas ao mesmo tempo não sabia como contar para os filhos, para os amigos, e até mesmo para o marido. Tinha então 42 anos. Considerava-se “velha demais” para ser mãe!Mas.... Deus!Ela não estava doente!!!Que felicidade!Sua filha caçula estava com 14 anos. Tinha saúde para vê-la se tornar adulta!

Quando chegou a sua casa, sentia-se tão feliz, que nem sabe como contou que estava grávida. As palavras saíram aos borbotões, apressadas, felizes.

Os meses passaram rapidamente. Os preparativos: chá de cegonha, compra das roupinhas, do berço, os enfeites do quarto. Tudo com a ajuda dos filhos, do marido, dos amigos...

Houve alguns “alarmes falsos”, (idas ao medico, sem que fosse a hora do bebe nascer).Até que chegou o dia tão esperado:

No dia 16 de Janeiro ela sentiu fortes dores e foi hospitalizada. Um lindo menino veio ao mundo! Mas o que era para ser alegria, de repente foi tomando outros rumos. Ela começou a sentir fortes dores após o parto. Teve febre alta. O médico não descobria o “porque” de tal febre. Ela foi definhando pouco a pouco. No dia 22 de Fevereiro, ela deixou essa vida e foi morar em outra dimensão, onde só os anjos e pessoas boas como ela podem ir.

No dia seguinte ao de sua morte, o bebe também adoeceu e morreu alguns dias depois. (Pessoas supersticiosas disseram que ela viera buscar o filho).

Antonio chorou por algum tempo, porém como tudo nessa vida passa muito rápido, os sentimentos de dor também passaram e Antonio casou outra vez. A outra mulher não foi capaz de ter o mesmo amor, o mesmo carinho, ele já não era mais um jovem e Antonio foi abandonado. Teve que se desfazer de sua casa e dar metade para a “nova mulher”.

Agora Antonio não tem onde morar.... Antonio está só. Foi pai de sete filhos no primeiro casamento, e de outros 3 no segundo(dez filhos!) e mesmo assim, Antonio está na solidão, sem ter onde morar. A memória busca forças nas lembranças, porém o corpo não responde. Antonio está triste.Parado na calçada, Antonio fica mudo, não tem mais palavras, não sabe mais o que fazer, a vida passou e ele ali quieto, deixa que seus passos se prendam à calçada , ele não tem mais para onde ir.Como um andarilho ele está sem destino.Antonio não tem mais uma casa para chamar de"sua".O Olhar vazio de Antonio se perde no meio da rua...

Hoje vi lágrimas nos olhos de Antonio...

Wal Ispala
Enviado por Wal Ispala em 25/02/2014
Reeditado em 26/02/2014
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