CONTO E CRÔNICA. DIFERENÇAS.

Tornou-se irrelevante para alguns estabelecer diferenças entre crônica e conto. O conto sempre teve como requisito ter desfecho inesperado. Era e é a sua graça....Tenho como fundamental esse aspecto que destaca a diversidade do objetivo desenvolvido. A crônica é desinteressada do final surpreendente que dá o “molho” ao final.

Crônica é corrida, solta, sem essa preocupação fundamental, por isso, muitíssimo mais fácil de elaborar, conto demanda criatividade singular. Continuo entendendo que conto sem o “fantástico’ final, que choca, emociona, surpreende enfim, não é conto, chame-se do que quiser, menos de conto. Essa caminhada para tudo igualar é como a banalização das artes em geral, se não se pode alcançar um objetivo por suas dificuldades, deslizemos ele para a vala do comum.

“O final enigmático prevaleceu até Maupassant (fim do século XIX) e era muito importante, pois trazia o desenlace surpreendente (o fechamento com "chave de ouro", como se dizia). Hoje tem pouca importância. Mesmo assim não há como negar que o final no conto é sempre mais carregado de tensão do que no romance ou na novela e que um bom final é fundamental no gênero. "Eu diria que o que opera no conto desde o começo é a noção de fim. Tudo chama, tudo convoca a um final" (Antonio Skármeta, Assim se escreve um conto).

Assim foi a raiz do conto que permanece para alguns, como entendo seu desenvolvimento.

Neste gênero, como afirmou Tchecov, “é melhor não dizer o suficiente do que dizer demais. Para não dizer demais é melhor, então, "sugerir" como se tivesse de haver um certo "silêncio" entremeando o texto, sustentando a intriga, mantendo a tensão.”

Segundo Cristina Perí-Rossi, “o escritor contemporâneo de contos não narra somente pelo prazer de encadear fatos de uma maneira mais ou menos casual, senão para revelar o que há por trás deles (citada por Mempo Giardinelli, op. cit). Desse ponto de vista a surpresa se produz quando, no fim, a história secreta vem à superfície.”

“No conto a trama é linear, objetiva, pois o conto, ao começar, já está quase no fim e é preciso que o leitor "veja" claramente os acontecimentos. Se no romance o espaço/tempo é móvel, no conto a linearidade é a sua forma narrativa por excelência.” "A intriga completa consiste na passagem de um equilíbrio a outro. A narrativa ideal, a meu ver, começa por uma situação estável que será perturbada por alguma força, resultando num desequilíbrio. Aí entra em ação outra força, inversa, restabelecendo o equilíbrio; sendo este equilíbrio parecido com o primeiro, mas nunca idêntico." (Gom Jabbar em Hardcore, baseado em Tzvetan Todorov).”

“Em outras palavras: no geral o conto "se apresenta" com "uma ordem". O conflito traz uma "desordem" e a solução desse conflito (favorável ou não) faz retornar à "ordem" – agora com ganhos e perdas, portanto essa ordem difere da primeira. "O conto é um problema e uma solução", diz Enrique Aderson Imbert.”

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Por ser “um problema” o conto, é que pretenderam desfigurá-lo do que tem de mais importante, o desfecho inusitado.

E muitos críticos acusaram grandes contistas de fugir da concisão que (é condicional) se exigiria dos contos, tudo por mera vontade de lançar críticas indevidas . O monumental Érico Veríssimo foi um deles. De seu estilo disse a crítica ignara como publicado na época: “O escritor, tem sido acusado, por certos críticos, de prolixo e difuso nas palavras com “repetições abusivas, incerteza na concepção de protagonistas, uso convencional da linguagem...”, o que torna evidente o seu maior defeito: a superficialidade e a falta de estudo psicológico e social das figuras literárias dos personagens, reconhecido em parte pelo próprio autor quando a elas se refere como marionetas “com a força e, ao mesmo tempo, a fraqueza da caricatura” (segundo Adelto Gonçalves).

Mesmo no romance o contista estava presente, como em “Incidente em Antares”, com trama fundamental e desfecho bombástico. Mas a crítica, sempre palavrosa e plena de verbiagem , ao mesmo tempo insossa, persegue os passos dos melhores. Inveja..........Creio que sim.

REEDITADO POR SER MATÉRIA DE GRANDE INTERESSE MOSTRANDO POSIÇÕES DE MESTRES DE NOMEADA.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 24/02/2014
Reeditado em 26/02/2014
Código do texto: T4704820
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