Era a aluna nova
As aulas na faculdade recomeçaram e logo no primeiro dia ela veio se sentar à minha frente. Achei-a bonita, interessante – sobretudo, deslocada. Porque todos os outros já se conheciam há muito tempo, mas ela era a aluna nova que veio da turma da manhã. Por isso apenas escolheu uma carteira para sentar e lá se deixou ficar, sem puxar assunto com ninguém. Também eu nada fiz para chamar a sua atenção, limitando-me a observá-la em sua solidão.
Naquela primeira semana de aula ela se virou para trás várias vezes, querendo tirar alguma dúvida sobre aquilo que o professor havia explicado. Não parecia tímida, mas também não se esforçava para participar de algum dos grupinhos da sala. Por algum motivo, havia simpatizado comigo. Foi a mim que recorreu quando o professor pediu um trabalho em dupla. Nesta ocasião eu descobri que ela lia um livro do Kundera. Eu já havia lido e a gente engatou uma conversa. A partir daí ela não precisava mais de nenhum motivo para se virar para trás e falar comigo.
Tanto que na semana seguinte ela já estava segredando os motivos da sua tristeza: sentia falta dos amigos da manhã e o pai sofria problemas de saúde. Passamos alguns intervalos juntos e comemos alguns lanches na cantina da faculdade. Gostava de ouvi-la, e comecei a gostar tanto que passei a ter outros interesses. Comecei a sondá-la sobre namorados e ela negou que houvesse algum. Dei então uma série de indiretas, mas de todas ela se esquivou. Quando não conseguiu mais, falou abertamente: não queria estragar uma amizade como a nossa com um romance que talvez não desse certo. Acontece que eu sou homem e, como tal, disposto a arriscar qualquer coisa por um pouco de prazer. Por isso ainda quis insistir, mas ela se manteve decidida. Sem remédio, aceitei.
Agora ela já conhece mais gente na sala e na última sexta saiu com um dos meus amigos. Magoado, não resisti e disse a ela uma pequena crueldade:
- Então quer dizer que com ele vale a pena arriscar a amizade, hein?