Um dia no Tucuruvi

Tucuruvi é a última estação do metrô, mas o primeiro destino que tenho quando chego a São Paulo. É onde mora a amiga que vem me encontrar ainda na rodoviária, e que chama o meu nome quando estou de costas e ainda não a enxerguei. Cheguei lá em pleno dia de semana, o que significava que eu não teria todas as pessoas à minha disposição. Mas ainda conseguimos almoçar juntos e passamos em sua casa até que ela fosse trabalhar. Com a tarde livre, comecei a caminhar sem rumo pelas ruas do Tucuruvi para passar o tempo.

E ainda não estava longe quando pude acompanhar uma batida de carros, igual a todas as batidas de carros que acontecem em cidades que não São Paulo. Nada de muito grave, mas o suficiente para fechar o trânsito. Apesar de tudo, era um evento extraordinário e teria me agradado conversar com alguém a seu respeito. Parei um pouco para assistir, mas logo segui adiante e encontrei uma daquelas redes de supermercado famosas. Constatei que elas são realmente todas iguais, independente da cidade em que estejam. Quando estava saindo de lá começou a chover forte, e eu tinha me esquecido de trazer guarda-chuva.

Esperei que diminuísse um pouco antes de continuar a caminhar, e foi quando encontrei um sebo. Ora, um sebo é um lugar em que sempre entrarei, seja em São Paulo, São Luiz do Purunã ou Iracema do Oeste. Passei lá a tarde inteira, em parte porque a chuva havia aumentado. Afinal resolvi sair, com chuva mesmo, e foi bastante ensopado que voltei a encontrar a minha amiga. Fomos então comer alguma coisa em uma lanchonete, onde travamos memorável batalha para pagar a conta, ficando a cargo da atendente decidir de qual de nós iria aceitar o dinheiro – e, miseravelmente, não foi de mim.

Voltamos para a sua casa e ficamos em seu quarto conversando sobre livros, músicas e melancolias variadas. E a conversa estava tão boa que às três horas da madrugada nós continuávamos em pé – aí está uma coisa que eu realmente não encontro em qualquer cidade.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 24/02/2014
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