"EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO".

A ilha chamada Marcel Proust tem em seu entorno uma grandiosa literatura. Nenhuma crítica no sentido de não aceitação, mas de entender seu universo, censurá-lo no bom sentido e reconhecê-lo em sua monumentalidade. Mauriac e Bernanos olham o autor com reservas sob ângulo moral em suas abordagens.

Ontem vi um advogado dizer que passou a entendê-lo melhor depois de ler apreciação de um filósofo sobre sua obra. Muitos se fascinaram com sua paciente busca da memória involuntária. A sua obra, romance entre os poucos de grandiosidade do mundo, por alguns que realmente podem abordá-lo, é chamada de cansativa, mas seus sete volumes podem ser lidos aos poucos. O primeiro tem como frase inicial “Longtemps je me suis couché de bonne heure”, mas corrido linearmente teria a tradução

"por muito tempo me deitei cedo" .

E assim “EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO”, mostra o tempo perdido nesse deitar cedo em detrimento de seu conhecimento do mundo e das gentes. E o tempo perdido é irrecuperável, Proust assinala essas passagens em tecelagem literária detalhada, no famoso epicentro de sua "memória involuntária".

É autor difícil de ser lido e a desistência se dá para muitos logo no início. Mas vale tentar. Será enriquecedor.

O primeiro volume do romance, intitulado "Ao lado de Swann", onde estão destacadas reflexões, foi traduzido por Mario Quintana, inicialmente, para o português.

Proust levava consigo cadernos de anotação escritos e reescritos. Agudo observador, chegava ao ponto de colar folhas ao lado das folhas desses cadernos que ia dobrando ao sabor das alterações.

"Aqueles que amam e os que são felizes não são os mesmos. A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos." Proust.

Bernanos, coincidentemente com Mauriac, alonga sua crítica para um déficit moral da obra, quando vê "la faiblesse de cette oeuvre et sa limite" , na "conscience humaine en est absent", "aucune des êtres qui la peuplent ne connaît l´inquietude morale, ni le scrupule, ni le remords, ni le désin de la perfection...". Esse desconhecimento dessas negatividades na tecitura e curso de seus personagens, como na vida, estão encapsulados no desejo da perfeição, sempre impossível e fortemente ligados ao desconhecimento do ser, e por isso inerente aos que pouco sabem e nada edificam, o que fica claro e aflora da inquietude moral sinalizada que demonstram.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 22/02/2014
Reeditado em 22/02/2014
Código do texto: T4701813
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