24 horas sem Internet: Uma eternidade!
Não sei o que deu no céu do Sertão, que agora resolveu despejar água em abundância, toda semana alagando ruas e aumentando as goteiras nos telhados. Será que tem tanta gente assim rezando e fazendo promessa para chover? Chuva no Sertão são benções, acostumado que o sertanejo está à anuidade dos pingos. Na primeira chuva ele corre para sua terrinha na Zona Rural para plantar, plantar e plantar..
Desde que escrevi as primeiras reportagens sobre o Sertão, descobri que Sertanejo não gosta que se chame de Roça a terra de seu trabalho. “Roça da idéia de um lugar abandonado, longe da civilização”, me disse um pequeno produtor rural, com justa razão, pois os contadores de histórias são useiros e vezeiros em comparar o homem que lida com a terra com aquele Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. Logo Monteiro, que amigo do educador Anísio Teixeira, nascido aqui na vizinha Caetité, visitou tantas vezes estas terras por aqui e deve ter visto que nosso sertanejo não é um Jeca!
Mas como história é só história a do Jeca, de Monteiro Lobato, começa assim: “Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários filhinhos pálidos e tristes. Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de “brejaúva”, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atrás da casa. (...) Todos que passavam por ali murmuravam: Que grandíssimo preguiçoso!”
Sertanejo não tem preguiça, mas tem desânimo. Ele enfrenta com otimismo desde a promessa do político, raramente cumprida, até o atendimento por Deus de sua promessa pedindo chuva, que tem horas é atendida em exagero. Imagine quem planta na primeira chuva ser surpreendido por duas ou três outras chuvas seqüenciadas, criando erosão e levando as sementes que custaram tão caro? Mas ele enfrenta isso com naturalidade, afinal, chuva é chuva. Sempre abençoada!
O desânimo do sertanejo vem depois da safra colhida, quando ouve do atravessador o valor que será dado por sua mercadoria. Se é que podemos chamar de valor as merrecas que o produtor acaba aceitando? Para não perder de todo! O atravessador também se queixa do preço do petróleo, dos buracos na estrada, e os mais esclarecidos mostram a falta de política federal para garantia de preços.
Então, reafirmando que chuva é sempre benção, seu Heitor vinha de sua lavoura em que a terceira chuva levou todas as sementes que encovou na primeira: “Foi benção também!”, exclamou e explicou: “Assim não colho, mas não passo raiva na hora de vender”. Só eu, jornalista, cuja lavoura é letrinhas, é que fiquei "aborrecido" com a chuva nunca vista por aqui, cheia de relâmpagos e trovoadas transformando em piscina a redação.
A “escagalhosa” (Me perdoe Deus) provocou um estrago no provedor, que também não a esperava com tantos ventos e sopros, derrubando antenas e encharcando equipamentos eletrônicos. Com esse comportamento anormal a chuva me deixou a eternidade de vinte e quatro horas sem acesso. Quem quase teve um acesso fui eu!
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Seu pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda de Guanambi, Bahia e é daqueles que também solta foguetes quando a chuva cai neste Sertão baiano.