O ENTERRO E O CAMINHÃO DE MUDANÇA
 
Conversando com uma grande amiga, dessas ditas do peito, com quem troco ideias frequentemente sobre a vida e o próprio viver, ouvi dela uma colocação que achei exemplar. O assunto da nossa conversa naquele barzinho descontraído era sobre o apego excessivo que muitas pessoas têm a seus bens materiais. Conversa vai, conversa vem, perguntei a ela como conseguia ser tão desapegada ao material e ela saiu-se com essa: “Você já viu alguma vez um caminhão de mudança acompanhando enterro?”.  
 
Sem dúvida, eu nunca vi e certamente nunca verei algum caminhão de mudança (principalmente carregado) acompanhando o enterro de quem quer que seja.
 
Já escrevi um texto chamado “Nada nos pertence, tudo é transitório”, onde enveredo por esse tema do apego das pessoas a tudo aquilo que é material, muitas vezes se esquecendo de que a vida em si é uma transição e apenas um determinado tempo na nossa espiritualidade. E, por incrível que possa parecer, existem muitas que não crêem que a vida pode ser um sopro, como bem disse Niemeyer, numa das melhores definições sobre a passagem.
 
É muito bom termos condições de possuir os bens materiais que nos proporcionam o merecido conforto, o próprio dinheiro para que possamos viajar e acalentar todos os nossos sonhos, assim como a garantia de que não ficaremos jogados nesse mundo hoje tão hostil. Mas, tudo isso é finito.
 
Vive-se com a luz da energia e com a paz e o silêncio da alma, estas sim, eternas. O restante fica no campo do transitório, do parcial e das nossas próprias incertezas.
 
  
******